Codificação, Informação e DNA.

A teoria do Design Inteligente é uma teoria científica com conseqüências empíricas desprovida de qualquer compromisso religioso. Ela se propõe a detectar empiricamente se o design observado na natureza é genuíno ou um produto das leis naturais, necessidades e o acaso.As técnicas empregadas pela teoria do Design Inteligente oferecem ferramentas de grande valia para o estudo das origens, mais especificamente para a origem da vida.A teoria do Design Inteligente utiliza a informação como o seu principal indicador confiável, pois a mesma pode serdetectada e medida, pela utilização das leis relacionadas com a informação e a sua conservação.Tem sido estabelecido estatisticamente que informação é uma entidade não material mas mental. Processos naturais são fontes fundamentalmente incapazes de gerar informação.A informação pode ser armazenada por meio de códigos em uma quantidade muito variada de meios. É importante observar-se que tanto o código utilizado quanto o meio onde ele é armazenado não podem ser considerados informação.Informação é uma mensagem. Um conjunto de símbolos codificados pode conter uma mensagem, podendo assim ser informação.Um exemplo da pesquisa para determinar se um conjunto de símbolos ou sinais estão relacionados com uma mensagem codificada vinda do espaço sideral encontra-se na área de sinais transmitidos por radiação eletromagnética. Estes sinai sem forma de ondas de rádio são detectados por várias antenas de observatórios no planeta. Diferenciar entre ruído(noise) – produzido por aleatoriedade, pulsos (pulses) – produzidos por leis da natureza, e mensagens(message) – produzida por inteligência, tem sido um dos trabalhos principais do SETI (Search for ExtraTerrestrial Intelligence) na busca por vida inteligente fora do planeta Terra.Várias técnicas têm sido desenvolvidas para determinar se um conjunto de símbolos codificados contém uma mensagem ou não. Por meio destas técnicas pode-se afirmar que a mensagem quando encontrada tem a sua origem relacionada a uma fonte inteligente e não a processos aleatóreos naturalistas.Essas técnicas baseiam-se em cinco áreas objetivas onde a avaliação pode ser feita por meio de uma metodologia específica.

1. Estatística – faz-se uma avaliação matemática do número de símbolos utilizados uma seqüência, da freqüência em que eles aparecem nesta seqüência e da ordem na qual eles aparecem. Estabece-se a relação: sinal transmitido / sinal recebido.

2. Sintaxe – faz-se uma avaliação do sequenciamento e do posicionamento dos símbolos nesta seqüência. Esta avaliação demonstra as regras pelas quais os símbolos são utilizados e o conteúdo de uma seqüência específica desímbolos.Estabelece-se a relação: código utilizado / código compreendido.

3. Semântica – faz-se uma avaliação do conteúdo de cada seqüência específica de símbolos em relação à seqüência toda. Obtem-se o significado da mensagem modificada. Estabelece-se a relação: idéia comunicada / sentido compreendido.

4. Pragmática – faz-se uma avaliação da relação da mensagem em relação ao contexto onde ela aparece.Estabelece-se a relação: ação esperada / ação implementada.

5. Apobética – faz-se uma avaliação do propósito da mensagem em relação ao contexto onde ela deve ser implementada. Estabelece-se a relação: propósito a ser atingido / resultado obtido.Uma ilustração prática desses 5 níveis pode ser obtida por meio da pedra de Rosetta.Os símbolos nela encontrados poderiam ser meros símbolos ornamentais ou uma mensagem armazenada naqueles símbolos. Jean François Champollion decifrou os símbolos egípcios enigmáticos, revelando que neles havia uma mensagem.Aplicando-se os testes de avaliação na pedra de Rosetta obtem-se:

1. Estatística:14 linhas em hieróglifos32 linhas em demótico (escrita egípcia cursiva)54 linhas em grego,1419 símbolos heroglíficos (116 diferentes)468 palavras gregas.

2. Sintaxe: as seqüências de símbolos formam palavras, cada qual com um significado específico.

3. Semântica: a mensagem é uma homenagem feita ao rei Ptolomeu pelos sacerdotes de Memphis por volta do ano 196a.C.

4. Pragmática: a homenagem deveria tornar-se conhecida por todos os povos.

5. Apobética:a mensagem tornou-se conhecida até os dias atuais. 

 

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Um estudo similar pode ser feito com o DNA (ácido deoxirribonucleico), avaliandose e o sequenciamento encontradonele é informação ou resultado de processos aleatóreos.

1. Estatística: número de símbolos utilizados, frequência e ordem na seqüência.

         Seqüências das quatro letras químicas ATCG.

2. Sintaxe: sequenciamento e posicionamento dos símbolos.

         Seqüência dos nucleotídeos

3. Semântica: conteúdo das seqüências de símbolos.

         Seqüência dos aminoácidos

4. Pragmática: ação esperada.

         Formação de proteínas

5. Apobética: resultado a ser atingido.

        Preservação e propagação da vida

O código encontrado no DNA é uma mensagem. Sua origem é inquestionavelmente de uma fonte inteligente e não de processos aleatóreos e randômicos. (O contrário seria o mesmo que tentar provar que a origem dos códigos encontradosna pedra de Rosetta é a aleatoriedade, tendo sido esculpidos pelos agentes do tempo, tais como vento e chuva,durante longos períodos de tempo.) Portanto, para o estabelecimento da origem da vida, torna-se crucial o estabelecimento da origem da mensagem contida no DNA, muito mais do que o estabelecimento da origem das suas demais características físico-químicas, tais como a sua estrutura tridimencional e os elementos químicos da sua composição.A implicação científica de tal determinação, evidenciando que a origem da mensagem ali contida não pode ser naturalista, é que a origem da vida não pode ser traçada de volta a uma série de processos cegos aleatórios, mas sim a um design inteligente.Embora aplicando-se ao DNA a mesma metodologia que é aplicada para estabelecer se sinais vindos do espaço são provenientes de uma fonte inteligente, e obtendo-se no caso do DNA um resultado positivo quanto a uma origem inteligente, causas naturalistas continuam sendo atribuídas tanto ao aparecimento do DNA quanto da vida.

Este artigo está baseado numa parte do Capítulo 2 “A Origem da Informação: Design Inteligente” do livro“Como Tudo Começou – Uma Introdução ao Criacionismo”

O Impasse da Evolução perante o Bipedalismo

Fragmento do livro o Engano do Evolucionismo. 

Além do registro fóssil, com o qual até agora estivemos lidando,hiatos anatômicos impossíveis de serem preenchidos, entre o homem e os símios, também invalidam a Teoria da Evolução humana. Um desses hiatos diz respeito à maneira de caminhar.Os seres humanos caminham eretos, sobre dois pés. Esta é uma maneirade movimentar-se que não é vista em nenhuma outra espécie. Alguns animais têm uma capacidade limitada de se deslocar quando se põem em pé sobre suas patas traseiras. Animais como ursos e macacos podem se deslocar assim somente raramente, por exemplo quando desejam alcançar algumas fontes de alimento, mas somente por um pequeno intervalo de tempo. Normalmente, o seu esqueleto inclina-se para a frente e passam a caminhar com os quatro pés.Bem, teria então o bipedalismo evoluído do andar sobre quatro pés dos símios, como alegam os evolucionistas?Certamente, não! As pesquisas têm mostrado que jamais ocorreu a evolução do bipedalismo, e nem seria possível que ela ocorresse.Primeiramente, o bipedalismo não constitui uma vantagem evolutiva. Amaneira pela qual os macacos se deslocam é muito mais fácil, mais rápida e mais eficente do que o andar bípede do homem. O homem não pode se deslocar nem pulando de galho em galho sem pisar no chão, como os chimpanzés, nem correr com a velocidade de 125 km/hora como a chita.Ao contrário, como o homem anda sobre dois pés, ele se desloca muito mais lentamente sobre o solo. Pela mesma razão, ele é uma das espécies mais desprotegidas dentre todas as demais da natureza, em termos de movimento e defesa. De acordo com a lógica da evolução, os macacos não deveriam ter evoluído para adotar um modo bípede de caminhar;pelo contrário, os seres humanos deveriam ter evoluído para se tornarem quadrúpedes!Outro impasse da alegação evolucionista é que o bipedalismonão se coaduna com o modelo darwinista do “desenvolvimento gradual”. Esse modelo, que constitui a base da evolução, exige que deva existir uma “composição” entre o caminhar bípede e o quadrúpede.Entretanto, o paleoantropólogo inglês Robin Crompton, com suas pesquisas computadorizadas realizadas em 1996, mostrou que essa “composição” não épossível. Crompton chegou à seguinte conclusão: Um ser vivo pode ou andar ereto, ou sobre todas as quatro pernas.

(88)
Um tipo intermediário de caminhar não é possível, devido ao consumo de energia extremamente elevado. É por isso que é impossível existir um ser intermediário entre bípede e quadrúpede.O imenso hiato existente entre o homem e o símio não se limita somenteao bipedalismo.Muitos outros pontos ainda permanecem inexplicados, como o volume craniano, a capacidade da fala, etc. Elaine Morgan, uma paleoantropóloga evolucionista, faz a seguinte confissão relativamente a esse assunto:Quatro dos mais extraordinários mistérios a respeito do ser humano são: 1) por que eles andam sobre duas pernas? 2) por que perderam sua pelagem? 3) por que desenvolveram cérebros tão grandes? 4) por que aprenderam a falar? As respostas ortodoxas a essas perguntas são: 1) “Não sabemos ainda”; 2) “Não sabemos ainda”; 3) “Não sabemos ainda”; 4)“Não sabemos ainda”. A lista de perguntas poderia ser consideravelmente estendida, sem afetar a monotonia das respostas.
 
(89)
Evolução: Um Fato Não-Científico
Lord Solly Zuckerman é um dos mais famosos e respeitados cientistas do Reino Unido. Durante anos ele estudou o registro fóssil e dirigiu muitas investigações detalhadas. Recebeu o título honorário de Lord devido às suas contribuições científicas. Zuckerman é um evolucionista, e portanto seus comentários sobre a evolução não podem ser considerados como observações deliberadamente antagônicas. Após anos de pesquisas sobre fósseis incluídos no cenário da evolução humana, ele chegou à conclusão de que, na verdade,não existe qualquer árvore genealógica evolutiva.Zuckermann também estabeleceu um interessante “espectro da ciência”,classificando as ciências em geral desde as que ele considerou como “mais científicas” até as que ele considerou “não-científicas”. De acordo com esse espectro, as “mais científicas”, isto é, que dependem de dados concretos – estão a química e a física. Depois delas vêm as ciências biológicas, e finalmente as ciências sociais. Na extremidade final do espectro, na parte considerada comomais “não-científica”, estão a “percepção extra-sensorial” – conceitos como telepatia e sexto sentido – e finalmente a “evolução humana”. Zuckerman explícita seu raciocínio:“Deslocamo-nos então para fora do registro da verdade objetiva naqueles campos das presumíveis ciências biológicas, como a percepção extra-sensorial ou a

interpretação da história dos fósseis humanos, onde para o crente tudo é possível [grifo meu]
– e onde o ardoroso fiel às vezes é capaz de acreditar em várias coisas contraditórias ao mesmo tempo”.[grifo meu]
 
 
 
-88. Ruth Henke, “Aufrecht aus den Baumen”,
Focus
 , vol. 39, 1996, p. 178.  -89. Elaine Morgan, “The Scars of Evolution”, New York: Oxford University Press, 1994, p. 5.

 
 
 
 

(90)
Qual, então, é a razão que torna tantos cientistas tão obstinados com relação a esse dogma? Por que têm eles tentado tão arduamente manter viva a sua teoria, ao custo de ter de admitir incontáveis conflitos, e descartar as evidências que têm descoberto?A única resposta é eles terem medo do fato que terão de encarar no caso de abandonarem a Teoria da Evolução. E esse fato é que o homem foi criado por Deus! Contudo, considerando os seus pressupostos, e a filosofia materialista em que crêem, para os evolucionistas a criação é um conceito inaceitável.Por essa razão, eles enganam a si mesmos, como também o mundo,utilizando os meios de comunicação com os quais cooperam. Se não conseguem descobrir os fósseis necessários, eles os “fabricam”, ou na forma de desenhos imaginários, ou de modelos fictícios, tentando dar a impressão de que existiram na realidade fósseis obedecendo a evolução. Parte dos meios de comunicação de massa, que partilha do ponto de vista materialista deles, tenta também enganar o público e instilar a história da evolução no subconsciente das pessoas.Independentemente de quão arduamente eles tentem assim proceder, a verdade é evidente: O homem veio à existência não através de um processo evolutivo, mas tendo sido criado por Deus. Portanto, ele é responsável perante Ele, muito embora não deseje assumir essa responsabilidade.
 
90. Solly Zuckerman, “Beyond The Ivory Tower”, New York: Toplinger Publications, 1970, p. 19.
 
 

Se está na hora de rever a Teoria da Relatividade (ciência dura com leis), o que dizer então da Teoria da Evolução (que não tem leis, só princípios)???

 
Às vésperas de completar 70 anos, um dos mais importantes físicos do Brasil é homenageado em simpósio e faz um balanço da ciência e seu futuro.
 
Um dos maiores físicos brasileiros da atualidade, o professor Mário Novello completa 70 anos no próximo dia 24. Em sua homenagem, a instituição onde trabalha, o Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), promoveu um simpósio especial na última semana, em que pesquisadores do Brasil e de várias partes do mundo discutiram as principais ideias e teorias que ele apresentou nos seus anos de atuação na ciência.
 
Em entrevista, Novello resumiu algumas delas e comemorou a atenção cada vez maior que a física recebe do público em geral.
 
– Quais foram seus focos de estudo nos últimos anos?
 
Eu me interessei por cinco grandes questões de conhecimento da natureza. A primeira é se o Universo teve um começo singular há alguns bilhões de anos ou é muito mais velho, possivelmente eterno, ou seja, se teve um colapso anterior à fase atual de expansão ou não. A segunda é se é possível produzir um buraco negro não-gravitacional em laboratório. Os buracos negros são um conceito tipicamente de gravitação, mas mostramos, eu e minha equipe, desde 2001 que certos efeitos eletrodinâmicos não-lineares podem produzir um comportamento dos fótons, os grãos de luz, típico do que têm quando na vizinhança de um buraco negro, o que significa que em certas circunstâncias seria possível fabricar um buraco negro não-gravitacional, eletromagnético, no laboratório. Isso teria consequências muito interessantes, como, por exemplo, esconder o que se quiser dentro dele, pois a matéria lá dentro não consegue emitir fótons e, assim, não seria possível ser detectada. A terceira é a origem da massa, que ganhou tanta atenção recentemente com o anúncio da detecção do bóson de Higgs. A quarta envolve um trabalho que fiz há algum tempo sobre a hipótese de que as interações da física poderiam variar com a situação espaçotemporal, ou seja, que a física que a gente descobre na Terra não é necessariamente a mesma em qualquer lugar do Universo. Aprendemos que as leis da física foram geradas de uma maneira que não sabemos como e cabe a nós simplesmente descobri-las, isto é, elas são o que são e não podem ser emendadas ou mudadas. Mas se por acaso houver uma dependência das interações fundamentais com a situação do Universo, poderia se começar a pensar que talvez tenha havido outras configurações e esta que hoje chamamos de leis da física são na verdade um conjunto cuja coerência durou um certo tempo suficientemente grande para gerar o que a gente chama de Universo. É mais ou menos a mesma diferença entre Ptolomeu e Copérnico. Nós achávamos que a Terra era o centro do Universo, e agora achamos que as leis da física descobertas na Terra são as mesmas em todo Universo. Guardadas as devidas proporções, o que estamos discutindo é se isso é verdade mesmo. Isso não pode ser um dogma a priori, é preciso testar, e onde testamos isso é com a Cosmologia, que está produzindo uma refundação da física como não se viu desde o século XVI. Já a quinta é a geometria do microcosmos, que é delicada. O mundo quântico tem propriedades muito especiais. Desde os anos 20 que a gente considera que neste mundo não se deve falar em processos contínuos, mas discretos. Daí o famoso “salto quântico”, que foi caracterizado de forma bem clara nas órbitas dos átomos de hidrogênio, e nos outros também, em que os elétrons não fica em todos lugares, eles têm certas órbitas preferenciais, que são determinadas exatamente pelas equações que regem este mundo quântico. Mas nos anos 50 David Bohm (físico britânico de origem americana que também foi cidadão brasileiro e viveu no país no início dos anos 50) produziu um cenário com uma visão contínua do mundo quântico que é a única, ou pelo menos uma das poucas, que pode ser aplicada na Cosmologia. Isso porque quando se vai produzir um modelo quântico do Universo, não se pode usar a interpretação clássica da mecânica quântica, a da Escola de Copenhague, que exige que se tenha um observador externo ao sistema. Ora, como não pode haver um observador externo ao que a gente chama de Universo, não poderia haver, neste caso, uma Cosmologia quântica. Para que ela exista, é preciso sair desta interpretação e é daí que vem a ideia de Bohm e de De Broglie (Louis De Broglie, físico francês ganhador do Nobel de 1929). No nosso grupo de Cosmologia no CBPF, temos trabalhado muito nesta direção e fizemos uma mudança na estrutura métrica que envolve o microcosmos. Isso é curioso porque estamos acostumados a medidas euclidianas no cotidiano. A Relatividade Especial, no entanto, mostrou que essa geometria euclidiana pode ser alterada quando você tem objetos com velocidades extremamente elevadas. O que estamos construindo é uma terceira possibilidade que é uma geometria do tipo produzida pelo matemático e físico alemão Hermann Weyl que pode exatamente ser responsável por aquele tipo de coisas que a gente chama de efeitos quânticos. Neste modo de encarar, os efeitos quânticos seriam na verdade propriedades do fato de termos uma estrutura métrica no interior do microcosmos do tipo não-euclidiana, o que muda de forma fantástica várias interpretações que temos até agora. São estas as cinco questões que basicamente tenho me envolvido. E claro que neste meio tempo orientei mais de 50 teses de mestrado e doutorado de meus alunos.
 
– Entre 2014, a Copa do Mundo no Brasil, e 2016, as Olimpíadas do Rio, temos os 100 anos da Teoria da Relatividade Geral de Einstein em 2015. Como o senhor e o CBPF estão se preparando para comemorar a data?
 
Há algum tempo venho propondo para o governo brasileiro a criação de um instituto de Cosmologia. Nos últimos 10 anos, os países do chamado Brics (sigla em inglês para Brasil, Rússia, China, Índia e África do Sul), com exceção do Brasil, montaram seus instituto de Cosmologia mostrando que a ciência fundamental faz parte do seu desenvolvimento, mostrando que em alguns anos esperam estar na fronteira do conhecimento, pois os centros tradicionais, como a Europa, estão em decadência. O Brasil então deveria seguir os “Rics” se quiser também participar deste movimento. Não seria a primeira vez que o CBPF daria origem a outra instituição de excelência. O Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC); o Laboratório Nacional de Luz Síncroton, em Campinas, e o Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa) vieram do CBPF. Ele é um gerador de institutos que, no entanto, não tiram um pedaço dele. Ao contrário, o CBPF engrandece cada vez mais quando faz uma coisa dessas. Devemos ter uma instituição nacional voltada para a Cosmologia.
 
– No mês passado, tivemos o anúncio da detecção do bóson de Higgs, que ganhou atenção da mídia e do público ao redor do mundo. Como o senhor vê este crescente interesse geral em ciências de ponta como a Física?
 
A maior parte das questões da Física envolvem também questões fundamentais do ser humano, como de onde viemos, para onde vamos. Tanto que o Higgs, ou a expansão do Universo, o Big Bang, os buracos negros, questões que as pessoas não entendem bem, chamam a atenção. São questões que estão no limite do conhecimento e estão interligadas na Cosmologia. Ao longo dos meus 35 anos de trabalho, sempre lidei com estes temas que estão na fronteira do conhecimento e têm um apelo popular notável, primeiro porque não sabemos totalmente a resposta. E segundo porque a visão que elas nos dão do Universo é maravilhosa. É como se estivéssemos vivendo uma época que está passando daquela visão estreita da Terra como centro de tudo para uma imagem grandiosa do Universo. Na semana passada estive em um evento organizado pelo rabino Nilton Bonder e foi muito bom ver o interesse das pessoas em assuntos que de uma certa maneira fogem de seu dia a dia. As pessoas perguntaram basicamente duas coisas: se o Higgs pode ter alguma importância na descrição do Universo e como se vê hoje a evolução do Universo. Eram 20h30 de uma quarta-feira e as pessoas lotaram um anfiteatro mostrando um interesse fantástico na ciência.
 
– Neste caso, o apelido marqueteiro do Higgs como “partícula de Deus” não teria influenciado esse interesse, apesar de na verdade sua busca não ter nada a ver com religião ou provar ou não a existência de Deus, mas sim decifrar as leis do Universo que está à nossa volta?
 
Destaquei lá que não há oposição entre ciência e religião. Religião trata de fé, enquanto a ciência é uma interpretação racional da natureza. Tem cientistas que acreditam em Deus e são religiosos, judeus, católicos, protestantes, muçulmanos, pois não há contradição. O debate não é religioso e as pessoas aceitaram isso muito bem. A questão não é como o cientista está vendo Deus, ele está produzindo um conhecimento do nosso Universo. É o que a gente pode fazer, porque o conhecimento de Deus não se pode dar através da razão (???), apenas de outra coisa que a gente chama de fé (a fé não é irracional). São dois modos como o homem pensa o mundo e interage com a sociedade distintas e que não são incompatíveis (Como não são incompatíveis – se um é racional e outro é irracional???). Cada coisa com seu próprio Universo.
 
– E quanto à evolução do Universo e a descoberta que sua expansão está se acelerando, o que trouxe a necessidade de encontrar explicações quase que esotéricas, como a misteriosa energia escura, que ninguém sabe o que é?
 
Essa é uma discussão importante, ainda mais tendo em vista os 100 anos da Relatividade. O momento é de começar a pensar em alterar um pouco a Teoria da Relatividade Geral de Einstein, o que vai mudar nossa visão da Cosmologia. Assim como Einstein não provou que Newton estava errado, só incompleto, estamos vendo que ele também não está completo e é preciso encontrar algumas mudanças em sua teoria, principalmente na presença de campos gravitacionais muito intensos. Einstein não está errado, o que ele fez é observacionalmente correto, principalmente com os dados que ele tinha na época. Mas não explica uma série de novas observações e novos fenômenos que a gente tem que descobrir um modo de interpretar mudando a Relatividade Geral, e propostas estão sendo desenvolvidas no mundo todo. É interessante ver que 100 anos depois, o que Einstein classificou com um dos seus maiores erros, a constante cosmológica, talvez tenha que ser reintroduzida na sua teoria com outras propriedades. A gente sabe que não sabe tudo. (Menos quando é Darwin…)
 
(O Globo – 17/8)

Notável filósofo ateu Thomas Nagel: ‘Defensores do Design Inteligente merecem nossa gratidão”!!!

quarta-feira, agosto 22, 2012

Estou reblogando este artigo do blog Desafiando a nomenklatura científica ,mas você também pode conferir no evolutionnews.org.

Notável filósofo ateu Thomas Nagel: “Defensores do Design Inteligente merecem nossa gratidão”

John G. West August 22, 2012 12:05 AM | Permalink

Em setembro, a Oxford University Press lança oficialmente a versão brochura de um novo livro pelo renomado filósofo Thomas Nagel da Universidade de Nova York. É uma surpresa estarrecedora.

Já disponível na versão Kindle, o livro de Nagel porta o título provocante Mind and Cosmos: Why the Materialist Neo-Darwinian Conception of Nature Is Almost Certainly False [Mente e Cosmo: por que a concepção materialista neodarwinista da natureza é quase que certamente falsa]. Você leu direito: o sub-título do livro declara que “a concepção materialista neodarwinista da natureza é quase que certamente falsa”. Nagel é um ateu que não está convencido do caso positivo a favor da teoria do Design Inteligente. Mas ele acha claramente que a evidência a favor da moderna teoria darwinista deixa a desejar. Além disso, ele está profundamente agradecido pelos “iconoclastas” do Movimento do Design Inteligente por levantar um desafio significante à atual ortodoxia científica. No capítulo 1, Nagel cita favoravelmente o trabalho de três membros do Discovery Institute em particular:

“Pensando sobre essas questões, eu tenho sido estimulado pelas críticas da predominante visão de mundo científica… pelos defensores do Design Inteligente. Muito embora escritores como Michael Behe e Stephen Meyer sejam, motivados, pelo menos, por suas crenças religiosas, os argumentos empíricos que eles oferecem contra a possibilidade de que a origem da vida e a sua história evolucionária possam ser plenamente explicadas pela física e física são, em si mesmos, de grande interesse. Outro cético, David Berlinski, tem trazido esses problemas vividamente sem referência à inferência de design. Mesmo que alguém não seja atraído para a alternativa de uma explicação pelas ações de um designer, os problemas que esses iconoclastas colocam para o consenso ortodoxo científico devem ser considerados seriamente. Eles não merecem o escárnio com que eles enfrentam comumente. Isso é manifestamente injusto.

De modo diferente e agradável, Nagel não se deixa levar pelos esforços unilaterais de evitar os argumentos dos proponentes do Design Inteligente estigmatizando suas presumidas “crenças religiosas”. Como Nagel destacou, “os argumentos empíricos” oferecidos pelos proponentes do DI “são de grande interesse em si mesmos”. É a evidência que interessa, e é a evidência que demanda uma resposta.

Nagel prossegue dizendo algo que provavelmente irá irritar realmente alguns defensores da ortodoxia darwinista:

“Eu creio que os defensores do Design Inteligente merecem a nossa gratidão por terem desafiado uma visão de mundo científico que deve algo da paixão demonstrada por alguns de seus adeptos exatamente pelo fato de ser considerada em nos libertar da religião. Aquela visão de mundo está prestes a ser substituída…”

Nossa! Quem quer que acredite que o peso da evidência apoia a visão darwinista, e que nenhuma pessoa racional pode duvidar do consenso darwinista, precisa ler o livro de Nagel.

Nagel é Membro da Academia Americana de Artes e Ciências, e recebeu o prestigiado Prêmio Balzan pelo seu trabalho em Filosofia Motal. Ele recebeu bolsas de estudos da National Science Foundation e da National Endowment for the Humanities, entre outras instituições. Ele é um dos principais filósofos dos Estados Unidos. Obviamente, ele também é um homem de grande coragem e independência de pensamento.

Prepare-se para as festas em que livros serão queimados pelos defensores da ortodoxia darwinista. Eu nem ficaria supreso se houver um esforço para convencer a Oxford University Press em repudiar o livro de Nagel.

O Que Vida é? Parte II: A Pobreza do do darwinismo

jbarham
 
Na ” Parte I: O Problema da Agência “, mostrei que os nossos conceitos normativos (aproximadamente, a exigência não causal, o propósito, valor e significado) estão intimamente relacionados conceitualmente um ao outro e à noção de agência.
 
Em seguida, mostrei que o conceito de agência normativa, assim definido, é bem aplicável até mesmo as formas mais primitivas de vida-até mesmo uma única célula pode ser adequadamente vistos como agentes normativos. Assim, conceitualmente falando, a agência parece ser uma característica, provavelmente essencial característica de theessential a própria vida.
 
E, finalmente, acabou por afirmar que a explicação mais razoável para estes fatos é que o nosso conceito de agência refere-se a um verdadeiro fenômeno agência é uma propriedade objetivamente existente de todos os organismos.
 
Essas afirmações podem parecer fantástico para a maioria dos críticos-de defensores e até mesmo muitos a visão predominante darwiniana da vida. Portanto, duas discussões serão necessários mais antes de minha posição através de meios de comunicação entre reducionismo e teísmo pode começar (espero) para assumir um ar de plausibilidade.
 
Primeiro, devo mostrar porque o problema que eu dirijo-grosso modo, o lugar da normatividade no universo ainda não tenha sido resolvido pela ciência mainstream. Esse é o tema desta coluna.
 
Em segundo lugar, deve oferecer pelo menos alguma dica de uma nova direção para futuras pesquisas. Logicamente, deveria ser suficiente para apontar a inadequação de nossa atual visão de mundo científica. Mas retoricamente, para que meu fim de parecer plausível, eu preciso dar pelo menos alguma indicação positiva do que uma pós-darwinista cosmovisão científica pode parecer. Então, esse será o tema da Parte III.
 
Antes de prosseguir, eu gostaria de reconhecer que nem todos que amplamente aceita a história científica dominante é uma normativa niilista. Em primeiro lugar, a maioria dos biólogos são, provavelmente, conteúdo para pagar o serviço do bordo à metafísica darwiniana, sem dar demasiada atenção ao que ele realmente significa. Eles só vão sobre seu negócio, em laboratório e em torno da mesa de jantar com a vaga idéia de que de alguma forma a teoria da seleção natural faz sentido de tudo isso. Minhas observações não são realmente dirigida a tais pessoas, que são simplesmente indiferente, profissionalmente ou pessoalmente, com a filosofia ou a coerência entre os diferentes aspectos de suas vidas e experiências.
 
Em vez disso, minhas observações aqui se dirigem aos-que podem ser filósofos naturalistas e cientistas que fazem grandiosas afirmações metafísicas para-darwinismo que se preocupam com a imagem grande. Eles fazem filosofia a honra de levar o problema da normatividade a sério, mas o fazem ao ver os nossos conceitos normativos como ilusória, como se referindo a nada real. Eles afirmam que a teoria da seleção natural suplementada pela física, química e biologia molecular, fornece uma explicação completa e empiricamente logicamente coerente para todos os dados de biologia, e que os nossos conceitos normativos simplesmente deixar de referir a qualquer coisa objetivamente existente. Estes são os povos a quem esta coluna destina-se principalmente.
 
Mas há um outro grupo, também, que mais ou menos aceitar a visão de mundo científica dominante pelo seu valor nominal, mas que se recusam a suas implicações materialistas e reducionistas. Estou a pensar desses filósofos que têm uma abordagem basicamente dualista para o problema, argumentando que o domínio da normatividade e do campo da experiência humana subjetiva, de modo mais geral, tem sua própria realidade separada, o que a ciência natural é simplesmente incompetente para resolver. Há duas versões teístas e naturalistas desta posição.
 
Admito que as formas de dualismo naturalista (amplamente, as abordagens kantianas e fenomenológica) são, em muitos aspectos atraente. (1) Mas, afinal eu rejeitá-los, por duas razões. Primeiro, a divisão metafísica eles postulam parece uma limitação arbitrária na nossa busca de compreensão. Unificação mostrando como as várias partes de nossa experiência coerente é a própria essência da compreensão, e não parece haver razão a priori porque os problemas de normatividade e de agência deve ser isolada a partir de investigação empírica. Claro, resta-me mostrar como a “unificação” pode ser exercida num espírito nonreductionist (ver Parte III).
 
A outra razão pela qual eu sinto a abordagem dualista deve ser rejeitado é pragmático. Alguns filósofos podem ver no dualismo uma solução pacífico para o nosso problema, mas os cientistas não estão dispostos a ir junto com eles. E, infelizmente, onde os cientistas levam, eles tendem a arrastar o resto de nós pelo nariz junto com eles. A visão materialista e reducionista do mundo favorecido pela consistente darwinistas-o que venho chamando de “valor” ou “normativa” niilismo-está a ganhar terreno com o público a um ritmo alarmante. Se não for efetivamente desafiado, a nossa própria humanidade pode estar em risco. A maneira mais eficaz para montar tal desafio é demonstrar a falência conceptual e empírica da darwiniana reducionista visão de mundo.
 
Passemos agora, então, para esta tarefa premente.
 
***
 
Por “darwinismo”, quero dizer a alegação de que a teoria da seleção natural fornece uma estrutura logicamente coerente e adequada empiricamente explicativo que é capaz de explicar todos os fenômenos biológicos em termos puramente mecanicistas.
 
Note-se que esse quadro desafiador reducionista explicativa não põe de forma a evolução (origem comum) em questão. Ela simplesmente levanta a questão de saber se nossa atual compreensão da vida e por isso de evolução faz sentido. (2)
 
Por vezes é difícil para aqueles que ainda não pensei muito sobre estas questões para perceber o que um darwinismo reivindicação radical, assim definido, faz. A alegação é que os nossos conceitos de propósito, valor e significado e muitos outros relacionados com conceitos literalmente se referem a nada. Nada existe na realidade, correspondente a estas ideias. Tudo o que realmente existe é apenas matéria, energia, forças físicas, e do princípio da seleção natural. E com estes conceitos científicos, que é suposto ser capaz de dar um relato completo de tudo o que há para saber sobre os sistemas vivos, incluindo nós mesmos.
 
Então, vamos ver se isso é verdade, se é realmente o caso de que a teoria da seleção natural, em conjunto com a biologia molecular eo resto, nos fornece uma conta conceitualmente e empiricamente adequada da realidade biológica.
 
A primeira coisa a observar é que o quadro explicativo darwiniano não pode fazer tudo o que se propõe a fazer a não ser que estritamente evita invocar quaisquer conceitos normativos. Isso significa que ele pode nem recorrer a qualquer explicitamente conceitos normativos, nem tacitamente pressupõem quaisquer tais conceitos. Se ele não chamar explicitamente ou tacitamente assumem tais conceitos, então na melhor das hipóteses, ele está implorando a questão da normatividade, ou, na pior das hipóteses, é simplesmente incoerente.
 
Agora, é um fato notável que a prática biológica real está repleta de terminologia normativa. Você mal pode ouvir uma palestra em uma biologia de classe que você dificilmente pode encontrar uma única página em um documento ou livro didático de biologia, que não viola essa proibição em linguagem normativa.
 
A cada passo do caminho, biologia exige a consideração de funções (uma variedade de propósito), requisitos, necessidades e as razões pelas quais as coisas acontecem. Tudo o que acontece nos organismos parece ter uma dimensão avaliativa, bem como: Falamos constantemente de sucesso e fracasso, bom e mau, melhor e pior, correto e incorreto, etc
 
Então, há toda a gama de discurso intencional que entrou biologia ao longo das duas últimas gerações. Os biólogos não podem se dar bem hoje em dia sem o uso de termos intencionais, como sinal, sinal, mensagem, representação mensageiro, código, transcrição, tradução, revisão, edição e muitos outros, todos emprestados do vocabulário comum para a discussão de vários aspectos do uso da linguagem humana. ( 3)
 
Em suma, parece impossível discutir sistemas biológicos de forma inteligível por qualquer período de tempo usando apenas o vocabulário das ciências naturais. Vocabulário normativo é simplesmente essencial para o discurso biológico-se em linguagem técnica ou no discurso cotidiano. Parece que não temos escolha a não ser empregar conceitos normativos, a fim de descrever adequadamente as coisas vivas, e ainda não temos necessidade deles para descrever o mundo inanimado.
 
Presumivelmente, isto não é uma simples coincidência, mas sim é devido ao facto de os sistemas vivos são fisicamente muito diferente de sistemas não-vivos. O fato de que devemos fazer uso de conceitos normativos em um caso, mas não no outro, nos dá uma pista importante sobre a verdadeira natureza dos sistemas vivos, se a gente escolher a persegui-lo.
 
Agora, o darwinista será impressionado por tudo isso. Ele vai dizer que a diferença em nossa maneira de pensar e falar sobre as coisas vivas é simplesmente um artefato de nossas limitações cognitivas. Ele não pode muito bem negar que o discurso biológico é disparado através de terminologia normativa, mas ele pode e vai negar que devemos tirar conclusões profundas metafísicas a partir deste fato. Ao contrário, ele irá alegremente escovar o problema de distância, dizendo que a linguagem normativa da biologia é apenas uma maneira conveniente de falar, uma façon de parler e que não tem importância particular, deverá ser anexado a ele. É útil na prática, como um dispositivo de heurística, mas, em princípio, não é necessário.
 
Por que não é necessário? Porque de acordo com o darwinista, em princípio sabemos como substituir a linguagem das ciências físicas para a terminologia normativa. Ou seja, o darwinista afirma podemos tomar qualquer termo normativo específico e traduzi-la em termos de física e química, com a ajuda da teoria da seleção natural, sem perda de poder explicativo.
 
Este, então, é a afirmação crucial que devemos avaliar. Pode o darwinista realmente usar a seleção natural para livrar seu quadro teórico da dependência explícita e implícita em conceitos normativos? Se ele pode, então ele ganha, e devemos admitir que o nosso mundo humano espiritual inteira de propósito, valor e significado é apenas um tecido de ilusões. Se ele não puder, então ele perde, ea seleção natural sai pela janela como base para a moderna visão de mundo científica.
 
Niilismo Normativa, sim ou não? As apostas intelectual dificilmente poderia ser maior.
 
Para economizar espaço, eu estou indo supor que o leitor está familiarizado com os conceitos básicos da teoria da seleção natural, e ir direto para o coração da estratégia da darwinista de reducionista. A idéia-a fundamental essência do darwinismo como um sistema metafísico é que toda a aparência de normatividade e agência em seres vivos pode ser explicado em duas etapas:
 
(1) Assumimos que a célula é uma máquina de todas as suas operações podem explicada por meio de locais interacções físicas, e não há nenhuma restrição global sobre as interacções locais. Vamos chamar esse o princípio mecânico.
 
(2) A coordenação funcional das peças vem sobre puramente através do processo de retenção de selecção aleatória variação e selectiva natural. Vamos chamar esse princípio A seleção.
 
 
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Programa de computador de pesquisadores da USP-São Carlos mimetiza evolução humana – Darwin ou Design Inteligente???

16/08/2012
Por Karina Toledo
Agência FAPESP – Árvores de Decisão são ferramentas computacionais que conferem às máquinas a capacidade de fazer previsões com base na análise de dados históricos. A técnica pode, por exemplo, auxiliar o diagnóstico médico ou a análise de risco de aplicações financeiras.
Mas, para ter a melhor previsão, é necessário o melhor programa gerador de Árvores de Decisão. Para alcançar esse objetivo, pesquisadores do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da Universidade de São Paulo (USP), em São Carlos, se inspiraram na teoria evolucionista de Charles Darwin.
“Desenvolvemos um algoritmo evolutivo, ou seja, que mimetiza o processo de evolução humana para gerar soluções”, disse Rodrigo Coelho Barros, doutorando do Laboratório de Computação Bioinspirada (BioCom) do ICMC e bolsista da FAPESP.
Software desenvolvido na USP de São Carlos cria e seleciona programas geradores de Árvores de Decisão, ferramentas capazes de fazer previsões. Pesquisa foi premiada nos Estados Unidos, no maior evento de computação evolutiva (Wikimedia)
A computação evolutiva, explicou Barros, é uma das várias técnicas bioinspiradas, ou seja, que buscam na natureza soluções para problemas computacionais. “É notável como a natureza encontra soluções para problemas extremamente complicados. Não há dúvidas de que precisamos aprender com ela”, disse Barros.
Segundo Barros, o software desenvolvido em seu doutorado é capaz de criar automaticamente programas geradores de Árvores de Decisão. Para isso, faz cruzamentos aleatórios entre os códigos de programas já existentes gerando “filhos”.
“Esses ‘filhos’ podem eventualmente sofrer mutações e evoluir. Após um tempo, é esperado que os programas de geração de Árvores de Decisão evoluídos sejam cada vez melhores e nosso algoritmo seleciona o melhor de todos”, afirmou Barros.
Mas enquanto o processo de seleção natural na espécie humana leva centenas ou até milhares de anos, na computação dura apenas algumas horas, dependendo do problema a ser resolvido. “Estabelecemos cem gerações como limite do processo evolutivo”, contou Barros.
Inteligência artificial
Em Ciência da Computação, é denominada heurística a capacidade de um sistema fazer inovações e desenvolver técnicas para alcançar um determinado fim.
O software desenvolvido por Barros se insere na área de hiper-heurísticas, tópico recente na área de computação evolutiva que tem como objetivo a geração automática de heurísticas personalizadas para uma determinada aplicação ou conjunto de aplicações.
“É um passo preliminar em direção ao grande objetivo da inteligência artificial: o de criar máquinas capazes de desenvolver soluções para problemas sem que sejam explicitamente programadas para tal”, detalhou Barros.
O trabalho deu origem ao artigo A Hyper-Heuristic Evolutionary Algorithm for Automatically Designing Decision-Tree Algorithms, premiado em três categorias na Genetic and Evolutionary Computation Conference (GECCO), maior evento da área de computação evolutiva do mundo, realizado em julho na Filadélfia, Estados Unidos.
Além de Barros, também são autores do artigo os professores André Carlos Ponce de Leon Ferreira de Carvalho, orientador da pesquisa no ICMC, Márcio Porto Basgalupp, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), e Alex Freitas, da University of Kent, no Reino Unido, que assumiu a co-orientação.
Os autores foram convidados a submeter o artigo para a revista Evolutionary Computation Journal, publicada pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT). “O trabalho ainda passará por revisão, mas, como foi submetido a convite, tem grande chance de ser aceito”, disse Barros.
A pesquisa, que deve ser concluída somente em 2013, também deu origem a um artigo publicado a convite no Journal of the Brazilian Computer Society, após ser eleito como melhor trabalho no Encontro Nacional de Inteligência Artificial de 2011.

Outro artigo, apresentado na 11ª International Conference on Intelligent Systems Design and Applications, realizada na Espanha em 2011, rendeu convite para publicação na revista Neurocomputing.

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NOTA DESTE BLOGGER:

Parabéns aos cientistas brasileiros por este feito. Fiquei na dúvida quanto à inspiração da teoria evolucionista de Charles Darwin para o desenvolvimento de um algoritmo que mimetiza a evolução humana para a soluções de problemas.

Razão? Os processos evolucionários darwinistas, como a seleção natural, são cegos, aleatórios e nada prevêem a favor ou contra as formas biológicas. Não há teleologia. Não fazem decisões. Não sabem quantas gerações servem de limites evolutivos.

O consenso científico atual é de que o design encontrado na natureza é ilusório, mas a biomimética e estes pesquisadores foram buscar inspiração na natureza e que podemos aprender com ela?  Além disso, a ciência, em que pese a multiplicidade de pesquisas desde 1859, ainda não sabe como se deu/se dá/se dará a evolução humana.

QED: a pesquisa está muito mais inspirada no Design Inteligente (os pesquisadores [designers???] elaboraram um algoritmo injetando informação matemática para atingir determinadas soluções) do que em Darwin que rejeitou uma ação teleológica guiando o processo evolucionário.

Fui, pois a Lógica Darwinista 101 é assim mesmo: um aglomerado de ideais que se contradizem…

A soberba de Hawking e a humildade de Pascal

É frustrante (pra não dizer irritante) ver gênios da ciência e do pensamento querendo dar respostas para questões que são claramente “irrespondíveis” pela ciência. Do alto de sua brilhante carreira científica (que sempre admirei), o físico britânico Stephen Hawking parece estar se esquecendo de outra virtude importante para os pensadores: a humildade. O grande Isaac Newton se referia aos “ombros de gigantes” sobre os quais se apoiou para poder ver mais longe e admitiu que somos como crianças diante de um mar de conhecimento. Mas e Hawking, o que faz diante de perguntas fundamentais que apontam para os limites no natural (portanto, para o sobrenatural)? Tenta engambelar seu público e a si mesmo com palavras vazias como estas, extraídas de seu novo livro O Grande Projeto (E esse título, hein? É pra provocar?): “Cada universo tem muitas histórias possíveis e muitos estados possíveis em instantes posteriores, isto é, em instantes como o presente, muito tempo após sua criação. A maioria desses estados será muito diferente do universo que observamos e será inadequado à existência de qualquer forma de vida. Só pouquíssimos deles permitiriam a existência de criaturas como nós. Assim, nossa presença seleciona desse vasto conjunto somente aqueles universos que sejam compatíveis com nossa existência. Ainda que sejamos desprezíveis e insignificantes na escala cósmica, isso faz de nós, em certo sentido, os senhores da criação.”

Pra começo de conversa, não existem evidências conclusivas da existência de outros universos, o que Hawking e seus seguidores assumem como certo. E se não podemos provar que esses universos paralelos existem, de que vale teorizar sobre eles? A frase “nossa presença seleciona desse vasto conjunto somente aqueles universos que sejam compatíveis com nossa existência” é, para mim, o verdadeiro conto de fadas; é falar ao vento. Note bem: Hawking considera a vida após a morte um conto de fadas, mas se refere a multiversos improváveis e os descreve como se fossem reais! Há muito mais evidências históricas da ressurreição de Jesus Cristo (que é a garantia da nossa própria ressurreição) do que desses tais universos. Mas Hawking insiste em negar essas evidências para acreditar em fábulas metafísicas…

“Ainda que sejamos desprezíveis e insignificantes na escala cósmica, isso faz de nós, em certo sentido, os senhores da criação”, diz Hawking. Acho que esse é o ponto. O ser humano, sem Deus, deseja sempre ocupar o trono da existência. Por mais que seja consciente de sua pequenez de habitante de um “pálido ponto azul” num universo incomensurável, quer ser “senhor da criação”. Aqui fazem falta os pensamentos de outro gigante intelectual que dizia entrar em pânico todas as vezes que via a cegueira e a miséria do “homem sem luz, abandonado a si mesmo, perdido neste canto do Universo, sem saber quem aqui o colocou, o que vai fazer e o que acontecerá quando morrer”. Blaise Pascal nasceu em 1628 e teve um encontro com o Criador em 1654, aos 31 anos de idade.

Você já leu Pensamentos, de Pascal? O livro é um verdadeiro alento nesta época de relativismo e “verdades” humanas sem substância. Quando pessoas como Hawking (cujo espirro vira notícia na mídia) me cansam com seu palavrório sem lastro, volto-me para a verdade absoluta da Palavra e para homens e mulheres que edificaram sobre esse firme fundamento. Pascal é um deles. Note por que:

“A encarnação de Jesus mostra ao homem a grandeza de sua miséria pela grandeza do remédio que ele precisa.”

“Hoje o homem se tornou semelhante aos animais, num tal afastamento de Deus que apenas lhe resta uma luz confusa de seu Criador.”

“É perigoso conhecer Deus sem conhecer a própria miséria e conhecer a própria miséria sem conhecer Deus.”

“A negligência dos que passam a vida sem pensar no fim derradeiro da existência irrita-me mais do que me comove e me espanta mais do que me aterroriza.”

“Não tendo conseguido curar a morte, a miséria e a ignorância, os homens procuram não pensar nisso tudo para serem felizes.”

“Entre nós e o inferno ou o céu, há apenas uma vida, assim mesmo extremamente frágil.”

“Todos os que procuram Deus fora de Jesus Cristo caem no ateísmo ou no deísmo, duas coisas que a religião cristã abomina quase de igual forma.”

“O conhecimento de Deus sem o da própria miséria produz orgulho. O conhecimento da própria miséria sem o de Deus produz desespero. O conhecimento de Jesus Cristo gera o meio-termo, pois nEle encontramos Deus e nossa miséria.”

“A religião cristã é sábia e louca. Sábia não só por ser a que mais sabe, mas também por ser a mais fundada em milagres, profecias, etc. Louca, porque não é isso tudo o que faz com que pertençamos a ela. O que nos faz crer é a cruz.”

“É preciso saber duvidar quando necessário, afirmar quando necessário e submeter-se quando necessário. Quem não faz assim não entende a força da razão.”

“Por serem bastante infelizes, devemos mostrar piedade para com os que não querem ou não conseguem crer.”

“Submissão e uso da razão – eis em que consiste o verdadeiro cristianismo. O último passo da razão é reconhecer que existe uma infinidade de coisas que a supera. Se a razão não reconhece isso, ela é fraca. Se as coisas naturais a superam, o que se dirá das sobrenaturais?”

“Se o homem não foi feito para Deus por que só é feliz em Deus? Se o homem é feito para Deus, por que é tão contrário a Deus?”

“Não tenho palavras para qualificar aquele que duvida e não corre atrás da certeza, aquele que, ao mesmo tempo, é sumamente infeliz e injusto, e ainda se sente tranquilo e satisfeito e se vangloria disso tudo.”

“É uma estranha inversão a sensibilidade do homem às pequenas coisas e a insensibilidade dele às grandes coisas.”

Espero e oro para que Stephen Hawking tenha um encontro com o Criador, como aconteceu com Pascal, Newton e tantos outros. Caso contrário, as décadas de “prisão” naquela cadeira de rodas poderão se transformar numa eternidade perdida. E que desperdício seria esse.

 

Michelson Borges

perspectivas

Se alguns livros heréticos, como por exemplo o de Ann Gauger aqui ao lado, se publicassem em Portugal, provavelmente iríamos ver o António Piedade, e aqueles outros da “Ca Gand’a Treta”, a organizar autos-de-fé e queima pública de livros; e o Carlos Fiolhais seria elegido por eles como o Sumo Pontífice. Posso estar enganado, mas estou convencido que nenhum livro científico generalista — abordagem generalista da ciência — se publica em Portugal sem passar pelo crivo politicamente correcto das academias coimbrinhas.

O livro é relativamente barato: pouco mais de 10 Euros + portes. O problema é que está em inglês.


  • Quantas mutações — segundo o darwinismo — seriam necessárias para transformar um australopitecos pitecantropos em um homo erectus?
  • Se existe apenas uma janela de 500 mil anos entre o australopiteco A. Afarensis e o homo erectus, será que o neodarwinismo pode explicar as mudanças entre um…

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perspectivas

O cientista israelita Gerald Schroeder fez uma famosa experiência que foi conhecida pelo “teorema dos macacos”, e que consistiu em colocar um teclado de um computador dentro de uma jaula com seis macacos (naturalmente que o teclado estava ligado a um PC que se encontrava fora da jaula).

A ideia de Schroeder seria a de que eventualmente os macacos, brincando aleatoriamente com o teclado e pressionando ao acaso as diversas teclas, conseguissem escrever um soneto, ou no mínimo, escrever uma só palavra correcta em qualquer língua conhecida.

Ao fim de um mês de experiência verificou-se que os macacos ― para além de terem defecado em cima do teclado ― tinham dactilografado 55 páginas mas não conseguiram escrever uma só palavra em qualquer língua conhecida, nem mesmo tinham escrito palavras básicas e monossilábicas como existem no inglês: a (artigo indefinido) ou I (eu) necessitam de um espaço antes e depois da…

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O conceito da evolução : Porque o darwinismo é falso III

 
Biogeografia – Argumentos teológicos também são proeminentes no Origem das Espécies. Por exemplo, Darwin argumentou que a distribuição geográfica das coisas vivas não fazia sentido se as espécies tivessem sido criadas separadamente, mas faria sentido no contexto de sua teoria. Casos como “a presença de espécie peculiar de morcegos em ilhas oceânicas e a ausência de todos os demais mamíferos terrestres”, Darwin escreveu, “são fatos completamente inexplicáveis na teoria de atos independentes de criação.” Em particular: “Por que, pode ser perguntado, tem a suposta força criadora produzido morcegos e nenhum dos outros mamíferos nas ilhas remotas?” Segundo Darwin, “no meu ponto de vista, essa questão pode ser facilmente respondida, pois nenhum mamífero terrestre pode ser transportado por um espaço vasto de mar, mas os morcegos podem cruzar voando.”[34] 
 
Mas Darwin sabia que a migração não pode explicar todos os padrões de distribuição geográfica. Ele escreveu no Origem das Espécies que “a identidade de muitas plantas e animais, nos cumes das montanhas, separadas umas das outras por centenas de quilômetros de planícies, onde as espécies alpinas, possivelmente, não poderiam existir, é um dos casos mais surpreendentes conhecido de mesma espécie vivendo em pontos distantes sem a aparente possibilidade de elas terem migrado de um ponto para o outro”. Darwin argumentou que uma idade do gelo recente “oferece uma simples explicação desses fatos”. Plantas e animais do Ártico que estivessem “quase que naquela ocasião” poderiam ter crescido em toda parte na Europa e América do Norte, mas, “quando o calor retornou plenamente, as mesmas espécies, que então tinham vivido juntas nas planícies europeias e norte-americanas, novamente seriam encontradas nas regiões árticas do Velho e do Novo Mundo, e em muitos cumes de montanhas isoladas bem distantes umas das outras”.[35] 
 
Assim, alguns casos de distribuição geográfica podem não ser devido à migração, mas à divisão de uma população antes grande e bem distribuída em pequenas populações isoladas – que os biólogos modernos chamam de “vicariância”. Darwin argumentou que todas as distribuições modernas das espécies podiam ser explicadas por essas duas possibilidades. Mas há muitos casos de distribuição geográfica que nem a migração e nem a vicariância parecem ser capazes de explicar. 
 
Um exemplo é a distribuição mundial de aves que não voam, ou as “ratites”. Inclusos estão os avestruzes na África, as siriemas na América do Sul, emas e casuares na Austrália, e kiwis na Nova Zelândia. Uma vez que essas aves não voam, explicações baseadas na migração sobre vastas distâncias oceânicas são implausíveis. Depois que a deriva continental foi descoberta no século 20, pensou-se que as diversas populações poderiam ter se separado com as massas terrestres. Mas os avestruzes e kiwis são por demais recentes; os continentes já tinham se separado quando essas espécies se originaram. Assim, nem a migração nem a vicariância explicam a biogeografia dos ratites.[36] 
 
Outro exemplo são os caranguejos de água doce. Estudados intensivamente pelo biólogo italiano Giuseppe Colosi nos anos 1920, esses animais completam seu ciclo de vida exclusivamente em hábitats de água doce e são incapazes de sobreviver à exposição prolongada à água salgada. Hoje, muitas espécies muito semelhantes são encontradas em lagos e rios amplamente separados na América Central e do Sul, África, Madagascar, Europa meridional, Índia, Ásia e Austrália. As evidências fóssil e molecular indicam que esses animais se originaram muito depois de os continentes terem se separados, assim, sua distribuição é inconsistente com a hipótese de vicariância. Alguns biólogos especulam que os caranguejos podem ter migrado por “transporte transoceânico” em troncos ocos, mas isso parece improvável dada a incapacidade deles em tolerar água salgada. Assim, nem a vicariância, tampouco a migração fornecem uma explicação convincente para a biogeografia desses animais.[37] 
 
Uma explicação alternativa foi sugerida na metade do século 20 por Léon Croizat, biólogo francês que cresceu na Itália. Croizat descobriu que a teoria de Darwin “parecia não concordar de jeito nenhum com certos aspectos de fatos importantes da natureza”, especialmente os fatos de biogeografia. Na verdade, ele concluiu, “por ora, o darwinismo é apenas uma camisa de força… um odre totalmente decrépito para guardar vinho novo”. Croizat não argumentou a favor de atos de criação independentes; em vez disso, ele propôs que em muitos casos uma espécie primitiva amplamente dispersa se dividiu em fragmentos, depois seus remanescentes evoluíram em novas espécies em localidades paralelas, separadas, que eram extraordinariamente semelhantes. Croizat chamou esse processo de evolução paralela de “ortogênese”. Os neodarwinistas, como Ernst Mayr, todavia, salientaram que não existe mecanismo para ortogênese, o que implica – contrário ao darwinismo – que a evolução é guiada em certas direções; por isso eles rejeitaram a hipótese de Croizat.[38] 
 
Em seu livro Why Evolution Is True, Coyne (igual a Darwin) atribui a biogeografia de ilhas oceânicas à migração, e outras determinadas distribuições à vicariância. Mas Coyne (diferente de Darwin) reconhece que esses dois processos não podem explicar tudo. Por exemplo, a anatomia interna dos mamíferos marsupiais é tão diferente da anatomia interna dos mamíferos placentários que os dois grupos são considerados como tendo se separado há muito tempo. Mas existem esquilos marsupiais voadores, tamanduás e toupeiras na Austrália que extraordinariamente aparentam esquilos voadores placentários, tamanduás e toupeiras em outros continentes, e essas formas de vida se originaram muito depois de os continentes terem se separado. 
 
Coyne atribuiu as semelhanças a “um processo muito conhecido chamado evolução convergente”. Segundo Coyne, “é realmente bem simples. As espécies que vivem em hábitats semelhantes experimentarão pressões de seleção semelhantes de seu ambiente, de modo que elas podem evoluir adaptações semelhantes, ou convergir vindo a parecer e se comportar de modo muito parecido, muito embora elas não sejam relacionadas”. Coloque junto a ancestralidade comum, a seleção natural e a origem das espécies (“especiação”), “adicione o fato que as áreas distantes do mundo podem ter hábitats semelhantes, e você tem a evolução convergente – e uma explicação simples de um importante padrão geográfico”.[39] 
 
Isso não é o mesmo que a “ortogênese” de Croizat pela qual as populações de uma espécie, após se tornarem separadas das demais, evoluem paralelamente devido a alguma força diretiva interna. Segundo a “evolução convergente” de Coyne, os organismos que são fundamentalmente diferentes uns dos outros evoluem através da seleção natural para se tornar superficialmente semelhantes porque eles habitam ambientes semelhantes. O mecanismo para ortogênese é interno, enquanto o mecanismo para convergência é externo. Todavia, nos dois casos, o mecanismo é crucial: sem ele, a ortogênese e a convergência são palavras que simplesmente descrevem padrões biogeográficos, e não explicações de como surgiram esses padrões. 
 
Assim, a mesma pergunta pode ser feita sobre a convergência que foi feita à ortogênese: Qual é a evidência para o mecanismo proposto? De acordo com Coyne, o mecanismo de convergência envolve a seleção natural e a especiação. 
 
Seleção e especiação 
 
Coyne escreveu que Darwin “tinha pequena evidência direta para a seleção agindo em populações naturais”. Na verdade, Darwin não tinha evidência direta de seleção natural; o melhor que ele pôde fazer no Origem das Espécies foi “dar uma ou duas ilustrações imaginárias”. Somente um século mais tarde, Bernard Kettlewell forneceu o que ele chamou de “a evidência perdida de Darwin” para a seleção natural – uma mudança na proporção de mariposas salpicadas claras e escuras que Kettlewell atribuiu a camuflagem e predação por aves.[40] 
 
Desde então, os biólogos têm descoberto várias evidências diretas de seleção natural. Coyne descreveu algumas delas, inclusive um aumento mediano na profundidade dos bicos dos tentilhões das Ilhas Galápagos, e uma mudança no tempo de floração em plantas selvagens de mostarda no sul da Califórnia – os dois casos devido à seca. Como Darwin, Coyne também compara a seleção natural com a seleção artificial usadas em cruzamento de plantas e animais. 
 
Mas esses exemplos de seleção – natural bem como artificial – envolvem somente pequenas mudanças dentro das espécies existentes. Os criadores de animais estavam familiarizados com tais mudanças antes de 1859, e é por isso que Darwin não escreveu um livro intitulado Como Espécies Existentes Mudam ao Longo do Tempo; ele escreveu um livro intitulado Origem das Espécies por Meio da Seleção Natural. “Darwin chamou sua grande obra de Origem das Espécies”, escreveu o biólogo evolucionista de Harvard, Ernst Mayr, em 1982, “porque ele estava plenamente consciente do fato de que a mudança de uma espécie em outra era o problema mais fundamental da evolução.” Mas Mayr tinha escrito anteriormente: “Darwin falhou em resolver o problema indicado pelo título de sua obra.” Em 1997, o biólogo evolucionista Keith Stewart Thomson escreveu: “Uma questão de tarefa inacabada para os biólogos é a identificação da prova/evidência indisputável da evolução”, e “a prova/evidência indisputável da evolução é a especiação, não é adaptação local e diferenciação de populações.” Antes de Darwin, o consenso era de que as espécies podiam variar somente dentro de certos limites; na verdade, séculos de seleção artificial tinham, aparentemente, demonstrado experimentalmente tais limites. “Darwin tinha que demonstrar que os limites podiam ser quebrados”, escreveu Thomson, “e nós também.”[41] 
 
Em 2004, Coyne e H. Allen Orr publicaram um livro detalhado intitulado Speciation [Especiação], no qual eles salientaram que os biólogos não tinham sido capazes de concordar sobre uma definição de “espécie” porque nenhuma única definição serve para todos os casos. Por exemplo, uma definição aplicável a organismos vivos, sexualmente reprodutores pode não fazer sentido algum quando aplicada a fósseis ou bactérias. Na verdade, existem mais do que 25 definições de “espécie”. Qual definição é a melhor? Coyne e Orr argumentaram que, “quando for decidir sobre um conceito de espécie, alguém deve primeiro identificar a natureza do ‘problema de espécie’ e depois escolher o conceito que melhor resolve aquele problema”. Como a maioria dos demais darwinistas, Coyne e Orr favorecem o “conceito biológico de espécie” [Biological Species Concept – BSC] de Ernst Mayr, pois, conforme esse conceito, “espécies são grupos de populações naturais que podem se cruzar e que são isoladas reprodutivamente de outros grupos”. Em seu livro Why Evolution Is True, Coyne explica que o conceito biológico de espécie é “aquele que os evolucionistas preferem quando estudam a especiação, porque leva qualquer um ao cerne da questão evolucionária. Sob o BSC, se alguém puder explicar como as barreiras reprodutivas evoluíram, esse alguém explicou a origem das espécies”.[42] 
 
Teoricamente, as barreiras reprodutivas surgem quando as populações geograficamente separadas divergem geneticamente. Mas Coyne descreve cinco “casos de especiação ocorrendo na hora” e que envolvem um mecanismo diferente: a duplicação de cromossomo, ou “poliploidia”.[43] Isso geralmente acontece após a hibridização entre duas espécies de plantas existentes. A maioria dos híbridos é estéril porque seus cromossomos incompatíveis não podem se separar apropriadamente a fim de produzir pólen fértil e ovários; ocasionalmente, contudo, os cromossomos em um híbrido duplicam espontaneamente, produzindo dois pares perfeitamente combináveis e tornando possível a reprodução. O resultado é uma planta fértil reprodutivamente isolada dos dois progenitores – uma nova espécie, conforme o BSC. 
 
Mas a especiação por poliploidia (“especiação secundária”) tem sido observada somente em plantas. Isso não fornece evidência a favor da teoria de Darwin de que as espécies se originam através da seleção natural, e nem para a teoria neodarwinista de especiação pela separação geográfica e divergência genética. Na verdade, segundo o biólogo evolucionista Douglas J. Futuyma, a poliploidia “não concede novas e importantes características morfológicas… [e] nem causa a evolução de novos gêneros” ou níveis mais altos na hierarquia biológica.[44] 
 
Desse modo, a especiação secundária não resolve o problema de Darwin. Somente a especiação primária – a divisão de uma espécie em duas através da seleção natural – seria capaz de produzir o padrão de árvore ramificada da evolução darwinista. Mas ninguém tem observado a especiação primária. A prova/evidência indisputável da evolução nunca foi encontrada.[45] 
 
Ou será que a prova/evidência indisputável da evolução foi encontrada? 
 
Em seu livro Why Evolution Is True, Coyne afirma que a especiação primária foi observada em um experimento noticiado em 1998. Curiosamente, Coyne não mencionou isso no livro de 2004, que ele escreveu junto com Orr, mas seu relato disso em 2009 vale a pena ser citado com todas as letras: 
 
“Nós até podemos ver a origem de uma nova espécie ecologicamente diversa de bactéria, tudo dentro de um único frasco de laboratório. Paul Rainey e seus colegas da Universidade Oxford colocaram uma cepa da bactéria Pseudomonas fluorescens em um pequeno frasco contendo caldo nutriente, e simplesmente observaram. (É surpreendente, mas verdadeiro que tal frasco contém realmente diversos ambientes. A concentração de oxigênio, por exemplo, é mais alta no topo e mais baixa no fundo.) Dentro de dez dias – não mais do que algumas centenas de gerações –, o ancestral das bactérias ‘lisas’ flutuando livremente tinha evoluído em duas formas adicionais ocupando partes diferentes da proveta. Uma, chamada de ‘espalhadora de rugas’, formou um tapete em cima do caldo. A outra, chamada de ‘espalhadora difusa’, formou um tapete no fundo. O tipo de ancestral liso persistiu no ambiente líquido no meio da proveta. Cada uma das duas novas formas era geneticamente diferente do ancestral, tendo evoluído através da mutação e seleção natural para se reproduzir melhor em seus respectivos ambientes. Aqui, então, não é somente a evolução, mas a especiação ocorrendo no laboratório: a forma ancestral produziu e coexistiu com dois descendentes ecologicamente diferentes, e nas bactérias tais formas são consideradas espécies distintas. Após um curto período de tempo, a seleção natural na Pseudomonas produziu uma ‘radiação adaptativa’ em pequena escala, o equivalente de como os animais ou plantas formam espécies quando eles encontram novos ambientes numa ilha oceânica.”[46] 
 
Mas Coyne omite o fato de que quando as formas ecologicamente diferentes foram colocadas de volta no mesmo ambiente, elas “sofreram uma rápida perda de diversidade”, segundo Rainey. Nas bactérias, uma população distinta ecologicamente (chamada de “ecotipo”) pode, sim, se constituir numa espécie separada, mas somente se a distinção for permanente. Como o microbiologista evolucionista Frederick Cohan escreveu em 2002, espécies nas bactérias “são ecologicamente distintas uma das outras; e elas são irreversivelmente separadas”.[47] A reversão rápida de distinções ecológicas quando as populações bacterianas no experimento de Rainey foram colocadas de volta no mesmo ambiente refuta a afirmação de Coyne de que o experimento demonstrara a origem de uma nova espécie. 
 
Exagerar a evidência para promover o darwinismo não é coisa nova. No caso dos tentilhões de Galápagos, a profundidade média dos bicos reverteu ao normal após a seca. Não houve evolução qua evolução, muito menos especiação. Mesmo assim, Coyne escreveu em seu livro Why Evolution Is True que “tudo que nós exigimos da evolução por seleção natural foi amplamente documentado” pelas pesquisas dos tentilhões. Uma vez que as teorias científicas permanecem ou caem devido à evidência, a tendência de Coyne exagerar a evidência não é coisa boa para a teoria que ele está defendendo. Quando um livreto publicado em 1999 pela Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos chamou a mudança de bicos dos tentilhões de “um exemplo particularmente convincente de especiação”, o professor de Direito de Berkeley e crítico de Darwin Phillip E. Johnson escreveu no The Wall Street Journal: “Quando nossos principais cientistas têm que recorrer ao tipo de distorção que colocaria um corretor da Bolsa na cadeia, você sabe que eles estão em dificuldades.”[48] 
 
Então, existem instâncias observadas de especiação secundária – que não é o que o darwinismo precisa –, mas nenhuma instância observada de especiação primária, nem mesmo em bactérias. O bacteriologista britânico Alan H. Linton procurou relatos de confirmação de especiação primária e concluiu, em 2001: “Não existe nenhuma na literatura afirmando que uma espécie foi demonstrada como tendo evoluído em outra espécie. As bactérias, a forma de vida independente mais simples de todas, são ideais para esse tipo de pesquisa, com tempos de geração de vinte a trinta minutos, e as populações são alcançadas após dezoito horas. Mas, por 150 anos de ciência de bacteriologia, não existe nenhuma evidência de que uma espécie de bactéria se transformou em outra espécie.”[49]
 
Conclusões 
 
Darwin chamou seu livro Origem das Espécies de “um longo argumento” para sua teoria, mas Jerry Coyne nos deu um longo blefe. O livro Why Evolution Is True tenta defender a evolução darwinista pelo rearranjo do registro fóssil; pela deturpação do desenvolvimento dos embriões vertebrados; por ignorar a evidência para a funcionalidade dos alegados órgãos vestigiais e o DNA não codificante, e depois promover o darwinismo com argumentos teológicos sobre “design ruim”, por atribuir alguns padrões biogeográficos para convergência devido a supostos processos “bem conhecidos” de seleção natural e de especiação; e depois exagerar a evidência a favor da seleção e especiação e fazer parecer que elas pudessem realizar o que o darwinismo exige delas. 
 
A evidência concreta revela que as principais características do registro fóssil são embaraçosas para a evolução darwinista; que o desenvolvimento embrionário inicial é mais consistente com origens separadas do que com ancestralidade comum; que o DNA não codificante é plenamente funcional, e contrário às predições neodarwinistas; e que a seleção natural não pode realizar nada mais a não ser seleção artificial – o que significa dizer mudanças mínimas dentro das espécies existentes. 
 
Diante de tal evidência, qualquer outra teoria científica teria sido, provavelmente, abandonada há muito tempo. Julgado pelos critérios normais da ciência empírica, o Darwinismo é falso. Ele permanece, apesar da evidência, e o entusiasmo de Darwin e seus seguidores em defendê-lo com argumentos teológicos sobre a criação e design sugere que sua permanência não tem nada a ver com a ciência.[50] 
 
Apesar disso, os estudantes de biologia podem achar útil o livro de Coyne. Considerando-se a informação exata e a liberdade de exercer o pensamento crítico, os estudantes podem aprender do livro Why Evolution Is True como os darwinistas manipulam a evidência e a misturam com teologia a fim de reciclar uma teoria falsa que já deveria ter sido descartada há muito tempo. 
 
Notas: 
 
34. Darwin, The Origin of Espécies, Chapters XIII (p. 347-352) and XV (p. 419). Disponível online (2009) aqui.
35. Darwin, The Origin of Espécies, Chapters XII (p. 330-332). Disponível online (2009) aqui.
36. Alan Cooper, et al., C. Mourer-Chauviré, C. K. Chambers, A. von Haeseler, A. C. Wilson & S. Paabo, “Independent origins of New Zealand moas and kiwis”, Proceedings of the National Academy of Sciences USA 89 (1992): 8741-8744. Disponível online (2008) aqui. Oliver Haddrath & Allan J. Baker, “Complete mitochondrial DNA genome sequences of extinct birds: ratite phylogenetics and the vicariance biogeografia hypothesis”, Proceedings of the Royal Society of London B 268 (2001): 939-945. John Harshman, E. L. Braun, M. J. Braun, C. J. Huddleston, R. C. K. Bowie, J. L. Chojnowski, S. J. Hackett, K. L. Han, R. T. Kimball, B. D. Marks, K. J. Miglia, W. S. Moore, S. Reddy, F. H. Sheldon, D. W. Steadman, S. J. Steppan, C. C. Witt & T. Yuri, “Phylogenomic evidence for multiple losses of flight in ratite birds”, Proceedings of the National Academy of Sciences USA 105 (2008): 13462-13467. Abstract disponível online (2008) aqui. Giuseppe Sermonti, “L’evoluzione in Italia – La via torinese / How Evolution Came to Italy – The Turin Connection”, Rivista di Biologia/Biology Forum 94 (2001): 5-12. Disponível online (2008) aqui.
37. Giuseppe Colosi, “La distribuzione geografica dei Potamonidae”, Rivista di Biologia 3 (1921): 294-301. Disponível online (2009) aqui. Savel R. Daniels, N. Cumberlidge, M. Pérez-Losada, S. A. E. Marijnissen & K. A. Crandall, “Evolution of Afrotropical freshwater crab lineages obscured by morphological convergence”, Molecular Phylogenetics and Evolution 40 (2006): 227-235. Disponível online (2009) aqui. R. von Sternberg, N. Cumberlidge & G. Rodriguez, “On the marine sister groups of the freshwater crabs (Crustacea: Decapoda: Brachyura)”, Journal of Zoological Systematics and Evolutionary Research 37 (1999): 19-38. Darren C. J. Yeo, et al., “Global diversity of crabs (Crustacea: Decapoda: Brachyura) in freshwater”, Hydrobiology 595 (2008): 275-286.
38. Léon Croizat, Space, Time, Form: The Biological Synthesis. Publicado pelo autor (Deventer, Netherlands: N. V. Drukkerij Salland, 1962), p. iii. Robin C. Craw, “Léon Croizat’s Biogeographic Work: A Personal Appreciation”, Tuatara 27:1 (August 1984): 8-13. Disponível online (2009) aqui. John R. Grehan, “Evolution By Law: Croizat’s ‘Orthogeny’ and Darwin’s ‘Laws of Growth’”, Tuatara 27:1 (August 1984): 14-19. Disponível online (2009) aqui. Carmen Colacino, “Léon Croizat’s Biogeography and Macroevolution or… ‘Out of Nothing, Nothing Comes’”, The Philippine Scientist 34 (1997): 73-88. Ernst Mayr, The Growth of Biological Thought (Cambridge, MA: Harvard University Press, 1982), p. 529-530.
39. Coyne, Why Evolution Is True, p. 92-94. 
40. Coyne, Why Evolution Is True, p. 116. Darwin, The Origin of Species, Capítulo IV (p. 70). Disponível online (2009) aqui. H. B. D. Kettlewell, “Darwin’s Missing Evidence”, Scientific American 200 (March, 1959): 48-53. 
41. Ernst Mayr, The Growth of Biological Thought (Cambridge, MA: Harvard University Press, 1982), p. 403. Ernst Mayr, Populations, Species and Evolution (Cambridge, MA: Harvard University Press, 1963), p. 10. Keith Stewart Thomson, “Natural Selection and Evolution’s Smoking Gun”, American Scientist 85 (1997): 516-518. 
42. Jerry A. Coyne & H. Allen Orr, Speciation (Sunderland, MA: Sinauer Associates, 2004), p. 25-39. Coyne, Why Evolution Is True, p. 174. 
43. Coyne, Why Evolution Is True, p. 188. 
44. Douglas J. Futuyma, Evolution (Sunderland, MA: Sinauer Associates, 2005), p. 398. 
45. Wells, The Politically Incorrect Guide to Darwinism and Intelligent Design, capítulo 5 (“The Ultimate Missing Link”), p. 49-59. 
46. Coyne, Why Evolution Is True, p. 129-130. 
47. Paul B. Rainey & Michael Travisano. “Adaptive radiation in a heterogeneous environment”, Nature 394 (1998): 69-72. Frederick M. Cohan, “What Are Bacterial Species?”, Annual Review of Microbiology 56 (2002): 457-482. Disponível online (2009) aqui
48. Coyne, Why Evolution Is True, p. 134. National Academy of Sciences, Science and Creationism: A View from the National Academy of Sciences, Second edition (Washington, DC: National Academy of Sciences Press, 1999), Chapter on “Evidence Supporting Biological Evolution”, p. 10. Disponível online (2009) aqui. Phillip E. Johnson, “The Church of Darwin”, The Wall Street Journal (August 16, 1999): A14. Disponível online (2009) aqui
49. Alan H. Linton, “Scant Search for the Maker”, The Times Higher Education Supplement (April 20, 2001), Book Section, p. 29. Frederick M. Cohan, “What Are Bacterial Species?”, Annual Review of Microbiology 56 (2002): 457-482. Disponível online (2009) aqui
50. Paul A. Nelson, “The role of theology in current evolutionary reasoning”, Biology and Philosophy 11 (October 1996): 493 – 517. Abstract disponível online (2009) aqui. Jonathan Wells, “Darwin’s Straw God Argument”, Discovery Institute (December 2008). Disponível online (2009) aqui. Jonathan Wells, “Darwin’s Straw God Argument”, Discovery Institute (December 2008). Disponível online (2009) aqui
 
Nota do blog Desafiando a Nomenklatura Científica: “Esta é a primeira vez que dedico uma postagem a alguém. Na verdade, é dedicada a Francisco Salzano, Sergio Pena e demais signatários de uma carta enviada , manifestando preocupação e [se declarando] afrontados com o avanço e a defesa da teoria do Design Inteligente por cientistas da ABC. Esses cientistas revelaram espírito anticientífico ao tentar intimidar vozes científicas dissidentes e céticas da robustez epistêmica das atuais teorias científicas sobre a origem e evolução do Universo e da vida. A ciência qua experiência humana é sujeita a revisão e até simples descarte de suas mais queridas teorias, e não é impedindo a divulgação de ideias diferentes que se promove o avanço da ciência. Francisco Salzano, Sergio Pena et al, que vergonha: vocês são contra a livre circulação e debates de ideias científicas nas universidades. A carta de vocês vai entrar para a História da Ciência como exemplo-mor de “patrulhamento ideológico”, censura, e de uma profunda covardia ao não mencionar para o presidente da Academia Brasileira de Ciências o nome do cientista de renome e saber científico que promove a teoria do Design Inteligente no Brasil: o nome dele é Prof. Dr. Marcos Nogueira Eberlin, o segundo cientista brasileiro mais citado em publicações científicas. Escrevi isso acima com profundo desprazer de um lado, e por outro lado com profunda alegria de desafiar a Nomenklatura científica e mostrar suas partes intestinais podres na defesa do materialismo filosófico que posa como se fosse ciência!”

O conceito da evolução : Porque o darwinismo é falso II

 
Embriões – A teoria evolucionária precisa de melhor evidência que o registro possa fornecer. Coyne destaca corretamente: “Quando escreveu A Origem das Espécies, Darwin considerou a embriologia a evidência mais forte a favor da evolução.” Darwin tinha escrito que a evidência parecia mostrar que “os embriões das mais distintas espécies pertencentes à mesma classe são mais aproximadamente similares, mas se tornam, quando plenamente desenvolvidos, amplamente dissimilares”, um padrão que “revela a comunidade da descendência”. Na verdade, Darwin pensou que os embriões no estágio inicial “nos mostram, mais ou menos completamente, a condição do progenitor de todo o grupo no seu estado adulto”[15] 
 
Mas Darwin não era um embriologista. Em seu livro Origem das Espécies, ele apoiou sua argumentação citando uma passagem do embriologista alemão Karl Ernst von Baer: “Os embriões dos mamíferos, aves, lagartos e cobras, e provavelmente chelonia [tartarugas], são, nos seus estágios mais incipientes, excessivamente parecidos uns com os outros… Tenho em minha posse dois pequenos embriões em álcool, cujos nomes eu omiti de colocar, e no presente momento sou bem incapaz de dizer a qual classe eles pertencem. Eles podem ser lagartos ou pequenas aves, ou mamíferos bem jovens, tão completa é a semelhança no modo de formação da cabeça e do tronco nesses animais.”[16] 
 
Coyne afirma que isso é algo que von Baer “escreveu para Darwin”, mas a história de Coyne é tão duvidosa quanto sua paleontologia. A passagem que Darwin citou foi de um artigo escrito em alemão por von Baer, em 1828; Thomas Henry Huxley traduziu para o inglês e publicou em 1853. Primeiramente, Darwin nem sabia que era de von Baer: nas duas primeiras edições do Origem das Espécies ele atribuiu a passagem incorretamente a Louis Agassiz.[17] 
 
Ironicamente, von Baer foi um crítico de peso da teoria de Darwin, rejeitando a ideia de que todos os vertebrados partilham de um ancestral comum. Segundo o historiador de ciência Timothy Lenoir, von Baer temia que Darwin e seus seguidores “já tivessem aceitado a hipótese evolucionária darwinista como verdade antes de se disporem à tarefa de observar os embriões”. O mito de que a obra de von Baer apoiava a teoria de Darwin foi devido, primeiramente, a outro biólogo alemão: Ernst Haeckel.[18] Haeckel manteve não somente que todos os embriões de vertebrados evoluíram de um ancestral comum, mas também que em seu desenvolvimento (“ontogenia”) eles davam replay (recapitulavam) de sua história evolucionária (“filogenia”). Ele a chamou de a Lei Biogenética: a ontogenia recapitula a filogenia. 
 
Em seu livro Why Evolution Is True, Coyne escreveu que “a ‘recapitulação’ de uma sequência evolucionária é vista na sequência de desenvolvimento” de vários órgãos. “Cada vertebrado passa pelo desenvolvimento numa série de estágios, e a sequência daqueles estágios acontece seguindo a sequência evolucionária de seus ancestrais”. A provável razão para isso é que “assim que uma espécie evolui em outra, o descendente herda o programa de desenvolvimento de seu ancestral”. Dessa maneira, o descendente altera as mudanças “naquilo que já é um plano de desenvolvimento robusto e básico”. 
 
É melhor para as coisas que evoluíram mais tarde serem programadas a desenvolver mais tarde o embrião. Esse princípio de “adicionar coisa nova em coisa velha” também explica por que a sequência de estágios de desenvolvimento reflete a sequência evolucionária dos organismos. Como um grupo evolui de outro, geralmente ele adiciona seu programa de desenvolvimento em cima do antigo. Assim, “todos os vertebrados começam o desenvolvimento [embrionário] parecendo um peixe embrionário porque todos nós descendemos de um ancestral tipo peixe”.[19] 
 
Mesmo assim, Coyne escreveu, a Lei Biogenética de Haeckel “estritamente não era verdade”, porque “os estágios embrionários não se parecem com as formas adultas de seus ancestrais”, como Haeckel (e Darwin) acreditaram, “mas se parecem com as formas embrionárias de seus ancestrais”. Mas essa reformulação da Lei da Biogenética não soluciona o problema. Em primeiro lugar, os fósseis de embriões são extremamente raros,[20] assim, a lei reformulada tem que depender de embriões de organismos modernos que são considerados como parecendo as formas ancestrais. O resultado é um argumento circular: de acordo com a teoria de Darwin, os peixes são nossos ancestrais; os embriões humanos (supostamente) se parecem com os embriões de peixes; portanto, os embriões humanos se parecem com os embriões de nossos ancestrais. Teoria primeiro, observação mais tarde – justamente como von Baer tinha objetado.
 
Em segundo lugar, a ideia de que estágios evolucionários posteriores simplesmente podem ser alterados para o desenvolvimento é biologicamente irreal. Um ser humano não é apenas um embrião de peixe com algumas características adicionadas. Como o embriologista britânico Walter Garstang destacou em 1922, “uma casa não é uma cabana com um andar em cima. Uma casa representa um grau maior na evolução de uma residência, mas toda a construção é alterada – as fundações, o madeiramento, o telhado –, mesmo que os tijolos sejam os mesmos”.[21] 
 
Em terceiro lugar, e mais importante, os embriões de vertebrados não são mais semelhantes em seus estágios iniciais. Nos anos 1860, Haeckel fez alguns desenhos para mostrar que os embriões de vertebrados pareciam quase idênticos em seu primeiro estágio – mas seus desenhos eram fraudulentos. Não somente ele distorceu os embriões fazendo-os parecer mais semelhantes do que eles realmente são, mas ele também tinha omitido os estágios iniciais nos quais os embriões são notavelmente diferente uns dos outros. Um embrião humano em seus estágios iniciais não se parece com um embrião de peixe. 
 
Somente depois de os embriões de vertebrados terem progredido pela metade de seu desenvolvimento é que eles alcançam o estágio que Darwin e Haeckel consideraram como sendo o primeiro. Os biólogos de desenvolvimento chamam esse padrão diferente-similar-diferente de “ampulheta de desenvolvimento”. Os embriões de vertebrados não se parecem um com o outro em seus estágios iniciais, mas convergem de algum modo em aparência na metade do desenvolvimento, antes de divergir novamente. Se a ontogenia fosse uma recapitulação da filogenia, tal padrão seria mais consistente com as origens separadas do que com a ancestralidade comum. Os darwinistas modernos tentam salvar sua teoria pressupondo que a ancestralidade comum de vertebrados é obscurecida porque o desenvolvimento inicial pode evoluir facilmente, mas não há justificação para essa pressuposição a não ser a própria teoria.[22] 
 
Embora os desenhos de Haeckel tivessem sido denunciados como fraude pelos seus contemporâneos, os livros didáticos de Biologia os usaram ao longo do século 20 para convencer os estudantes de que os humanos partilham de um ancestral comum com os peixes. Então, em 1997, uma publicação científica publicou um artigo comparando as fotos dos embriões de vertebrados com os desenhos de Haeckel, e que o autor principal descreveu como “uma das mais famosas fraudes em Biologia”. [SIC ULTRA PLUS 1] Em 2000, o paleontólogo evolucionista de Harvard, Stephen Jay Gould, chamou os desenhos de Haeckel de “fraudulentos” e escreveu que os biólogos deveriam “ficar atônitos e envergonhados pelo século de reciclagem estúpida que resultou na persistência desses desenhos num grande número, se não na maioria dos livros didáticos modernos”.[23] [SIC ULTRA PLUS 2] 
 
 
 
Mas Coyne não se sente envergonhado. Ele defende os desenhos de Haeckel. Coyne escreveu: “Haeckel foi acusado, em grande parte injustamente, de ter falsificado alguns desenhos de embriões iniciais para fazê-los parecer mais semelhantes do que eles realmente são. Apesar disso, não devemos jogar fora o bebê junto com a água do banho.”[24] O “bebê” é a teoria de Darwin, que Coyne defende teimosamente, a despeito da evidência.
 
Vestígios e design ruim

Darwin argumentou em seu livro Origem das Espécies que a ocorrência generalizada de órgãos vestigiais – órgãos que, possivelmente, uma vez tiveram uma função, mas que agora são inúteis – é evidência contra a criação. “Sobre o ponto de vista de que cada organismo com todas as suas partes separadas tendo sido especialmente criadas, como totalmente inexplicável seja que os órgãos trazendo a marca nítida de inutilidade… devesse tão frequentemente ocorrer.” Mas tais órgãos, ele argumentou, são prontamente explicados por sua teoria: “No ponto de vista da descendência com modificação, nós podemos concluir que a existência de órgãos numa condição rudimentar, imperfeitos e inúteis, ou quase abortados, longe de apresentar uma dificuldade estranha, como eles, sem dúvida, fazem na antiga doutrina da criação, podem até ter sido antecipados de acordo com os pontos de vista aqui explicados.”[25]

Em seu livro The Descent of Man, Darwin citou o apêndice humano como um exemplo de órgão vestigial. Mas Darwin estava errado: hoje sabemos que o apêndice é uma fonte importante na produção de anticorpos das células do sangue, e assim parte integral do sistema imunológico humano. Ele pode também servir como compartimento para bactérias benéficas que são necessárias para a digestão normal. Assim, o apêndice não é de jeito nenhum inútil.[26]

Em 1981, o biólogo canadense Steven Scadding argumentou que embora ele não tivesse nenhuma objeção ao darwinismo, “os órgãos vestigiais não fornecem nenhuma evidência para a teoria evolucionária”. A razão principal é que “é difícil, se não impossível, identificar inequivocamente órgãos totalmente desprovidos de função”. Scadding citou o apêndice humano como um órgão previamente tido como sendo vestigial, mas agora sabido ter uma função. Outro biólogo canadense, Bruce Naylor, contrapôs que um órgão com alguma função ainda pode ser considerado vestigial. Além disso, Naylor argumentou, “organismos perfeitamente planejados necessitariam a existência de um Criador”, mas “os organismos frequentemente são algo menos do que perfeitamente planejados” e assim melhor explicados pela evolução. Scadding respondeu: “Todo o argumento de Darwin e de outros com respeito aos órgãos vestigiais giram em torno de sua inutilidade.” Do contrário, o argumento da vestigialidade nada mais é do que um argumento de homologia, e “Darwin lidou esses argumentos separadamente reconhecendo que eles eram de fato independentes”. Scadding também objetou que o argumento de Naylor – “menos do que perfeitamente planejado” – era “baseado numa pressuposição teológica sobre a natureza de Deus, i.e. que Ele não criaria estruturas inúteis. Qualquer que seja a validade dessa afirmação teológica, ela certamente não pode ser defendida como uma declaração científica, e por isso não deve ter lugar numa discussão científica da evolução”.[27]

Em seu livro Why Evolution Is True, Coyne (como Darwin) citou o apêndice humano como exemplo de um órgão vestigial. Diferentemente de Darwin, todavia, Coyne admite que “ele pode ser de algum uso mínimo. O apêndice contém trechos de tecido que podem funcionar como parte do sistema imunológico. Também tem sido sugerido que ele fornece refúgio para as bactérias intestinais úteis. Mas esses benefícios mínimos certamente são superados pelos problemas severos que vêm com o apêndice humano”. De qualquer modo, Coyne argumenta, “o apêndice ainda é vestigial, pois não exerce mais a função pela qual evoluiu”.[28]

Como Scadding tinha destacado uns trinta anos atrás, todavia, o argumento de Darwin se fundamentava na falta de função, e não na mudança de função. Além disso, se a vestigialidade fosse redefinida como propõe Coyne, ela incluiria muitas características nunca antes pensadas como sendo vestigiais. Por exemplo, se o braço humano evoluiu de uma perna de mamífero de quatro pernas (como afirmam os darwinistas), então o braço humano é vestigial. E se (como argumenta Coyne) as asas de aves voadoras evoluíram de membros anteriores emplumados de dinossauros que as usaram para outros propósitos, então as asas das aves voadoras são vestigiais. Isso é o contrário do que a maioria das pessoas quer dizer com “vestigial”.[29]

Coyne ignora também a outra crítica de Scadding, argumentando que se o apêndice humano for ou não inútil, ele é um exemplo de design imperfeito ou ruim. “O que eu quero dizer com ‘design ruim’”, Coyne escreveu, “é a noção de que se os organismos foram construídos por um designer desde o começo – alguém que tivesse usado os blocos biológicos construtores, ou os nervos, músculos, ossos, e assim por diante – eles não teriam tais imperfeições. Design perfeito seria verdadeiramente o sinal de designer capacitado e inteligente. Design imperfeito é a marca da evolução; na verdade, é exatamente isso que nós esperamos da evolução.”[30]

Um exemplo ainda melhor de design ruim, Coyne argumentou, é a prevalência de “genes mortos”. Segundo a versão moderna de Darwinismo que Coyne defende, o DNA carrega um programa genético que codifica proteínas e que dirige o desenvolvimento embrionário; as mutações ocasionalmente alteram o programa genético para produzir novas proteínas (ou mudar seus locais); e depois a seleção natural seleciona essas mutações para produzir a evolução. Nos anos 1970, contudo, biólogos moleculares descobriram que a maior parte de nosso DNA não codifica proteínas. Em 1972, Susumu Ohno chamou isso de “lixo”, e em 1976 Richard Dawkins escreveu: “Uma grande fração do DNA nunca é traduzida em proteína. Do ponto de vista do organismo individual isso parece paradoxal. Se o ‘propósito’ do DNA é supervisionar a construção de corpos, é surpreendente encontrar uma grande quantidade de DNA que não faz isso.” Do ponto de vista da evolução darwinista, todavia, não há nenhum paradoxo. “O verdadeiro ‘propósito’ do DNA é sobreviver, nem mais nem menos. O modo mais simples de explicar o DNA extra é supor que ele é um parasita, ou melhor, um passageiro inofensivo, mas inútil, pegando carona nas máquinas de sobrevivência pelo outro DNA.”[31]

Como Dawkins, Coyne considera que grande parte de nosso DNA é parasitária. Ele escreveu em Why Evolution Is True: “Quando uma característica não é mais usada, ou se torna reduzida, os genes que fazem isso não desaparecem instantaneamente do genoma: a evolução para a ação delas, inativando-as, não as removendo do DNA. Disso nós podemos fazer uma predição. Esperamos encontrar, nos genomas de muitas espécies, genes silenciados, ou ‘mortos’; genes que foram úteis uma vez, mas não estão mais intactos ou expressos. Em outras palavras, deve haver genes vestigiais. Ao contrário, a ideia de que todas as espécies foram criadas do zero prediz que tais genes não existiriam.”

 
Coyne continua: “Trinta anos atrás, não podíamos testar essa predição porque não tínhamos como ler o código do DNA. Contudo, hoje é bem fácil sequenciar o genoma completo das espécies, e tem sido feito para muitas espécies, inclusive os humanos. Isso nós dá uma ferramenta especial para estudar a evolução quando compreendemos que a função normal de um gene é fazer uma proteína – uma proteína cuja sequência de aminoácidos é determinada pela sequência das bases de nucleotídeos que constituem o DNA. E assim que nós tivermos a sequência do DNA de um dado gene, geralmente nós podemos dizer se ele é normalmente expresso – isto é, se ele faz uma proteína funcional – ou se ele é silenciado e nada faz. Podemos ver, por exemplo, se as mutações mudaram o gene de modo que uma proteína útil não possa mais ser feita, ou se as regiões de ‘controle’ responsáveis por ativar um gene foram inativadas. Um gene que funciona é chamado de pseudogene. E a predição evolucionária de que encontraremos pseudogenes tem sido cumprida – amplamente. Virtualmente todas as espécies abrigam genes mortos, muitos deles ainda ativos em seus genes aparentados. Isso implica que aqueles genes também foram ativos em um ancestral comum, e foram mortos em alguns descendentes mas não em outros. De aproximadamente trinta mil genes, por exemplo, nós humanos abrigamos mais de dois mil pseudogenes. Nosso genoma – e os de outras espécies – são verdadeiramente cemitérios bem preenchidos de genes mortos.”[32]

Mas Coyne está completamente errado.

Evidência saindo de projetos de sequenciamento de genomas mostra que virtualmente todo o DNA de um organismo é transcrito em RNA, e que, embora a maior parte daquele RNA não seja traduzida em proteínas, ele realiza funções reguladoras essenciais. Cada mês, os periódicos científicos publicam artigos descrevendo mais dessas funções. E isso não é uma manchete de última hora: a evidência tem se acumulado desde 2003 (quando os cientistas acabaram de sequenciar o genoma humano), que os “pseudogenes” e outras sequências assim chamadas de “DNA lixo” não são, afinal de contas, inúteis.[33] O livro Why Evolution Is True ignora esse enorme conjunto de evidências que refutam decisivamente a predição darwinista de Coyne de que nosso genoma deveria conter bastante DNA “morto”. Não é de admirar que Coyne sempre fique no tipo de argumentos teológicos que Scadding escreveu “não deveriam ter lugar numa discussão científica da evolução”.

 
(Dr. JonathanWells, Discovery Institute, 18/5/2009) 
Notas:

15. Coyne, Why Evolution Is True, p. 79; Darwin, The Origin of Species, capítulo XIV, p. 386-396. Disponível online (2009) aqui.
16. Darwin, The Origin of Species, chapter XIV, p. 387-388. Disponível online (2009) aqui.
17. Coyne, Why Evolution Is True, p. 73; Karl Ernst von Baer, “On the Development of Animals, with Observations and Reflections: The Fifth Scholium”, traduzido por Thomas Henry Huxley, p. 186-237, in Arthur Henfrey & Thomas H. Huxley (editores), Scientific Memoirs: Selected from the Transactions of Foreign Academies of Science and from Foreign Journals: Natural History (London, 1853; reimpresso em 1966 por Johnson Reprint Corporation, New York); a passagem citada por Darwin está na p. 210;
Jane M. Oppenheimer, “An Embryological Enigma in the Origin of Species”, p. 221-255, in Jane M. Oppenheimer, Essays in the History of Embryology and Biology (Cambridge, MA: The M.I.T. Press, 1967).
18. Timothy Lenoir, The Strategy of Life (Chicago: The University of Chicago Press, 1982), p. 258; Frederick B. Churchill, “The Rise of Classical Descriptive Embryology”, p. 1-29, in Scott F. Gilbert (editor), A Conceptual History of Modern Embryology (Baltimore, MD: The Johns Hopkins University Press, 1991), p. 19, 20.
19. Coyne, Why Evolution Is True, p. 77-79.
20. Simon Conway Morris, “Fossil Embryos”, p. 703-711, in Claudio D. Stern (editor), Gastrulation: From Cells to Embryos (Cold Spring Harbor, NY: Cold Spring Harbor Laboratory Press, 2004).
21. Walter Garstang, “The theory of recapitulation: a critical restatement of the biogenetic law”, Journal of the Linnean Society (Zoology), 35 (1922): 81-101.
22. Vide capítulo cinco e as referências que se seguem in Wells, Icons of Evolution;
vide capítulo três e as referências que se seguem in Wells, The Politically Incorrect Guide to Darwinism and Intelligent Design.
23. Michael K. Richardson, J. Hanken, M. L. Gooneratne, C. Pieau, A. Raynaud, L. Selwood & G. M. Wright, “There is no highly conserved embryonic stage in the vertebrates: implications for current theories of evolution and development”, Anatomy & Embryology 196 (1997): 91-106; Michael K. Richardson, citado in Elizabeth Pennisi, “Haeckel’s Embryos: Fraud Rediscovered”, Science 277 (1997):1435; Stephen Jay Gould, “Abscheulich! Atrocious!”, Natural History (March, 2000), p. 42-49; “Hoax of Dodos” (2007), disponível online (2009) aqui.
24. Coyne, Why Evolution Is True, p. 78, notas.
25. Darwin, The Origin of Species, capítulos XIV (p. 402) e XV (p. 420); disponível online (2009) aqui.
26. Darwin, Charles, The Descent of Man, First Edition (London: John Murray, 1871), capítulo I (p. 27), disponível online (2009) aqui; Kohtaro Fujihashi, J. R. McGhee, C. Lue, K. W. Beagley, T. Taga, T. Hirano, T. Kishimoto, J. Mestecky & H. Kiyono, “Human Appendix B Cells Naturally Express Receptors for and Respond to Interleukin 6 with Selective IgA1 and IgA2 Synthesis”, Journal of Clinical Investigations 88 (1991): 248-252, disponível online (2009) aqui; J. A. Laissue, B. B. Chappuis, C. Müller, J. C. Reubi & J. O. Gebbers, “The intestinal immune system and its relation to disease”, Digestive Diseases (Basel) 11 (1993): 298-312, abstract disponível online (2009) aqui; Loren G. Martin, “What is the function of the human appendix?”, Scientific American (October 21, 1999), disponível online (2009) aqui.; R. Randal Bollinger, Andrew S. Barbas, Errol L. Bush, Shu S. Lin & William Parker, “Biofilms in the large bowel suggest an apparent function of the human vermiform appendix”, Journal of Theoretical Biology 249 (2007): 826-831, disponível online (2009) aqui;
Duke University Medical Center, “Appendix Isn’t Useless At All: It’s A Safe House For Good Bacteria”, ScienceDaily (October 8, 2007), disponível online (2009) aqui.
27. Steven R. Scadding, “Do ‘vestigial organs’ provide evidence for evolution?”, Evolutionary Theory 5 (1981): 173-176; Bruce G. Naylor, “Vestigial organs are evidence of evolution”, Evolutionary Theory 6 (1982): 91-96; Steven R. Scadding, “Vestigial organs do not provide scientific evidence for evolution”, Evolutionary Theory 6 (1982): 171-173.
28. Coyne, Why Evolution Is True, p. 61, 62.
29. Coyne, Why Evolution Is True, p. 46.
30 Coyne, Why Evolution Is True, p. 81.
31. Susumu Ohno, “So much ‘junk’ DNA in our genome”, Brookhaven Symposia in Biology 23 (1972): 366-70; Richard Dawkins, The Selfish Gene (New York: Oxford University Press, 1976), p. 47.
32. Coyne, Why Evolution Is True, p. 66, 67.
33. Alguns dos muitos artigos científicos publicados desde 2003 que documentam a função do tão chamado DNA “lixo” são: E. S Balakirev & F. J. Ayala, “Pseudogenes: are they ‘junk’ or functional DNA?”, Annual Review of Genetics 37 (2003): 123-151; A. Hüttenhofer, P. Schattner & N. Polacek, “Non-coding RNAs: hope or hype?”, Trends in Genetics 21 (2005): 289-297; J. S. Mattick & I. V. Makunin, “Non-coding RNA”, Human Molecular Genetics 15 (2006): R17-R29; R. K. Slotkin & R. Martienssen, “Transposable elements and the epigenetic regulation of the genome”, Nature Reviews Genetics 8 (2007): 272-285; P. Carninci, J. Yasuda & Y Hayashizaki, “Multifaceted mammalian transcriptome”, Current Opinion in Cell Biology 20 (2008): 274-80; C. D. Malone & G. J. Hannon, “Small RNAs as Guardians of the Genome”, Cell 136 (2009): 656–668; C. P. Ponting, P. L. Oliver & W. Reik, “Evolution and Functions of Long Noncoding RNAs”, Cell 136 (2009): 629–641.

Nota do blog Desafiando a Nomenklatura Científica: “Quando em 1998 eu apontava as fraudes e as distorções de evidências científicas a favor da evolução para alguns dos expoentes autores de livros-texto de Biologia do ensino médio, recebi um e-mail de um deles, meu amigo, informando que a fraude dos desenhos dos embriões de Haeckel era do conhecimento da maioria dos biólogos! Mas ele não entrou em detalhes sobre a motivação por que eles eram utilizados pelos autores. Motivação científica ou ideológica? Na análise crítica que submeti ao MEC, em 2003 e 2005, foram destacadas essas fraudes e as distorções das evidências científicas a favor do ‘fato’ da evolução. Dos autores analisados, somente Amabis e Martho retiraram as fraudes, mas não explicitaram por que o fizeram. Com o descaso do MEC/SEMTEC/PNLEM para o que foi apresentado como desonestidade acadêmica da parte desses autores, não acompanhei mais a abordagem da evolução nesses livros didáticos. Pobres estudantes, estão sendo fraudados há um século; nota bene: um século!”

O conceito da evolução : Porque o darwinismo é falso I

 
 
Jerry A. Coyne é professor no Departamento de Ecologia e Evolução na Universidade de Chicago. Em seu livro Why Evolution is True[Por que a Evolução é Verdadeira], ele resume assim o darwinismo – a teoria moderna da evolução: “A vida na Terra evoluiu gradualmente com uma espécie primitiva – talvez uma molécula autorreplicante – que viveu há mais de 3,5 bilhões de anos; e depois se ramificou ao longo do tempo, lançando muitas e novas espécies diversas; e o mecanismo para a maior parte da (mas não toda) mudança evolucionária é a seleção natural.”[1] 
 
Coyne explica mais adiante que a evolução “simplesmente significa que uma espécie sofre mudança genética ao longo do tempo. Isto é, ao longo de muitas gerações, uma espécie pode evoluir em algo bem diferente, e essas diferenças são baseadas em mudanças no DNA, que se originam como mutações. As espécies de animais e plantas vivendo hoje não estavam por aqui no passado, mas descendem daquelas que viveram muito antes”.[2] 
 
Segundo Coyne, contudo, “se a evolução significasse somente mudança genética gradual dentro de uma espécie, hoje nós teríamos somente uma espécie – um único descendente altamente evoluído da primeira espécie. Mas temos muitas espécies… Como que essa diversidade surgiu de uma forma ancestral?” Ela surge por causa da “divisão, ou, mais exatamente, da especiação”, que “simplesmente significa a evolução de grupos diferentes que não podem cruzar entre si”.[3] 
 
Se a teoria darwinista fosse verdadeira, “nós deveríamos ser capazes de encontrar alguns casos de especiação no registro fóssil, com uma linhagem de descendência se dividindo em duas ou mais. E nós deveríamos ser capazes de encontrar novas espécies se formando na natureza”. Além disso, “deveríamos ser capazes de encontrar exemplos de espécies que se conectariam com os principais grupos suspeitos de terem uma ancestralidade comum, como as aves com os répteis, e os peixes com os anfíbios”. Finalmente, existem fatos que “fazem sentido somente à luz da teoria da evolução”, mas não fazem sentido à luz da criação ou do design. Isso inclui “os padrões de distribuição das espécies sobre a superfície da Terra, as peculiaridades de como os organismos se desenvolvem de embriões, e a existência de características vestigiais que não são de nenhum uso aparente”. Coyne conclui sua introdução com a afirmação ousada de que “toda a evidência – tanto velha quanto nova – resulta inelutavelmente na conclusão de que a evolução é verdadeira”.[4] 
 
Claro, a “evolução” é inegavelmente verdadeira se ela simplesmente significar que as espécies existentes podem mudar de modos pequenos ao longo do tempo, ou que muitas espécies vivendo hoje não existiram no passado. Mas a asserção de Darwin de que todas as espécies são descendentes modificados de um ancestral comum, e a asserção de Coyne de que as mutações do DNA e a seleção natural produziram essas modificações, não são assim tão inegavelmente verdadeiras. Coyne devota o resto do seu livro a fornecer evidências para elas. 
 
Fósseis 
 
Coyne se volta primeiro para o registro fóssil. “Devemos ser capazes”, ele escreveu, “de encontrar alguma evidência para a mudança evolucionária no registro fóssil. As camadas rochosas mais profundas (e mais antigas) conteriam os fósseis de espécies mais primitivas, e alguns fósseis deveriam se tornar mais complexos à medida que as camadas rochosas se tornam mais jovens, com os organismos parecendo as atuais espécies encontradas nas camadas mais recentes. E nós devemos ser capazes de ver algumas espécies mudando ao longo do tempo, formando linhagens de ‘descendência com modificação’ (adaptação).” Em particular, “as espécies posteriores devem ter traços que as tornam parecidas com os descendentes de espécies mais antigas”.[5] 
 
Em seu livro A Origem das espécies, Charles Darwin reconheceu que o registro fóssil apresentava dificuldades para sua teoria. “Pela teoria da seleção natural”, ele escreveu, “todas as espécies vivas foram conectadas com as espécies progenitoras de cada gênero, por diferenças não maiores do que as que nós vemos entre as variedades naturais e domésticas das mesmas espécies no presente dia.” Assim, no passado, “o número de elos intermediários e transicionais, entre todas as espécies vivas e extintas, deve ser inconcebivelmente grande”. Mas Darwin sabia que os principais grupos de animais – que os biólogos modernos chamam de “filo” – apareceram plenamente formados no que eram na ocasião as mais antigas rochas fossilíferas conhecidas, depositados durante um período geológico conhecido como o Cambriano. Ele considerava isso uma dificuldade “séria” para sua teoria, pois “se a teoria for verdadeira, é incontestável que antes de o estrato inferior do Cambriano ser depositado decorreram longos períodos… e que durante esses vastos períodos o mundo foi enxameado com criaturas vivas”. E quanto “à pergunta de por que não achamos ricos depósitos fossilíferos pertencentes a esses períodos tidos como mais antigos anteriores ao sistema Cambriano, eu não posso dar nenhuma resposta satisfatória”. Desse modo, “o caso no presente momento deve permanecer inexplicável; e pode ser verdadeiramente levantado como um argumento válido contra os pontos de vista aqui considerados”.[6] 
 
Darwin defendeu sua teoria citando a imperfeição do registro geológico. Em particular, ele argumentou que os fósseis pré-cambrianos teriam sido destruídos pelo calor, pressão e erosão. Alguns dos seguidores modernos de Darwin têm argumentado dessa maneira que os fósseis pré-cambrianos existiram, mas foram destruídos mais tarde, ou que os organismos pré-cambrianos eram pequenos demais ou moles demais para serem fossilizados em primeiro lugar. Todavia, desde 1859, os paleontólogos têm descoberto muitos fósseis pré-cambrianos, muitos deles microscópicos ou de corpo mole. Como o paleontólogo Americano William Schopf escreveu em 1994, “a noção há muito tempo defendida de que os organismos pré-cambrianos deveriam ter sido pequenos demais ou delicados demais para terem sidos preservados em materiais geológicos… [é] agora reconhecida como incorreta”. Se isso significar alguma coisa, o surgimento abrupto dos principais filos de animais há cerca de 540 milhões de anos – que os biólogos modernos chamam de “Explosão Cambriana” ou o “Big Bang da biologia” – é muito mais bem documentado agora do que no tempo de Darwin. De acordo com o paleontólogo de Berkeley, James Valentine, e seus colegas, a “explosão é real, ela é grande demais para ser mascarada por falhas no registro fóssil”. Na verdade, quanto mais fósseis são descobertos, se torna claro que a explosão cambriana foi “ainda mais abrupta e extensiva do que antes imaginado”.[7] 
 
E o que o livro de Coyne tem a dizer sobre isso? 
 
“Cerca de 600 milhões de anos atrás”, Coyne escreveu, “toda uma gama de organismos relativamente simples, mas multicelulares, surgiu, inclusive minhocas, medusas e esponjas. Esses grupos se diversificaram ao longo dos milhões de anos seguintes, com as plantas terrestres e os tetrápodes (animais de quatro patas, os mais antigos deles foram os peixes com nadadeiras lobadas) surgindo cerca de 400 milhões de anos atrás.”[8] 
 
Em outras palavras, o relato de Coyne da história evolucionária salta de 600 para 400 milhões de anos atrás, sem mencionar a explosão cambriana de 540 milhões de anos. Nesse sentido, o livro de Coyne é como um livro-texto moderno de Biologia que foi escrito para doutrinar os estudantes na evolução darwinista, em lugar de lhes fornecer os fatos. 
 
Coyne prossegue discutindo diversas formas “transicionais”. “Um de nossos melhores exemplos de uma transição evolucionária”, ele escreveu, é o registro fóssil das baleias, “pois temos uma série de fósseis cronologicamente ordenada, talvez uma linhagem de ancestrais e descendentes, mostrando seu movimento da terra para a água.”[9] 
 
“A sequência começa”, Coyne escreveu, “com um fóssil recentemente descoberto de um parente próximo das baleias, um animal do tamanho de um guaxinim chamado Indohyus. Vivendo há 48 milhões de anos, o Indohyus foi… provavelmente muito próximo do que parecia o ancestral da baleia.” No parágrafo seguinte, Coyne escreveu: “O Indohyus não foi o ancestral da baleia, mas quase com certeza foi seu primo. Mas se recuarmos mais quatro milhões de anos, para 52 milhões de anos atrás, vemos o que pode muito bem ser aquele ancestral. É um crânio fóssil de uma criatura do tamanho de um lobo chamada Pakicetus, que se parece muito mais com uma baleia do que o Indohyus.” Na página que separa esses dois parágrafos, há uma figura intitulada “Formas transicionais na evolução das baleias modernas”, que mostra o Indohyus como o primeiro da série e o Pakicetus como o segundo.[10] 
 
Mas o Pakicetus – como Coyne acabou de nos dizer – é quatro milhões de anos mais velho do que o Indohyus. Para um darwinista, isso não importa: Pakicetus é “muito mais parecido com uma baleia” do que o Indohyus, por isso deve ficar entre o Indohyus e as baleias modernas, apesar da evidência fóssil. 
 
(Coyne usa o mesmo truque com os fosseis que, supostamente, são ancestrais das aves modernas. O Archaeopteryx, o ícone dos livros didáticos, com suas asas com penas como uma ave moderna, mas dentes e cauda como os de um réptil, é datado em 145 milhões de anos. Mas o que Coyne chama de “fósseis de dinossauros não voadores com penas” – que deveriam ter vindo antes do Archaeopteryx – são milhões de anos mais novos. Como os cientistas darwinistas Kevin Padian e Luis Chiappe oneze anos antes, Coyne simplesmente reorganiza a evidência para encaixar a teoria darwinista.)[11] 
 
Chega da predição de Coyne que “as espécies posteriores deveriam ter características que as fizessem parecer com os descendentes de espécies anteriores”. E chega também com o seu argumento de que “se a evolução não fosse verdadeira, os fósseis não ocorreriam numa ordem que faz sentido em termos evolucionários”. Ignorando os fatos que ele mesmo acabou de apresentar, Coyne conclui descaradamente: “Quando encontramos as formas transicionais, elas ocorrem no registro fóssil exatamente onde deveriam ocorrer.” Se o livro de Coyne fosse feito filme, essa cena deveria mostrar a frase de Chico Marx: “Em quem você vai acreditar, em mim ou nos seus próprios olhos?”[12] 
 
Há outro problema com a série de fósseis de baleia (e com todas as demais séries de fósseis) que Coyne deixou de abordar: nenhuma espécie na série poderia, possivelmente, ser o ancestral de qualquer outra, porque todas elas possuem características que elas primeiro teriam que perder antes de evoluir numa forma subsequente. É por isso que a literatura científica, tipicamente, mostra cada espécie ramificando de uma suposta linhagem. 
 
Na figura abaixo, todas as linhagens são hipotéticas. O diagrama à esquerda é uma representação da teoria evolucionária: a espécie A é ancestral de B, que é ancestral de C, que é ancestral de D, que é ancestral de E. Mas o diagrama à direita é uma representação melhor da evidência: as espécies A, B, C e D não estão na linhagem real que resulta na espécie E, que permanece desconhecida. 
 
 
 
 
 Acontece que nenhuma série de fósseis pode fornecer evidência para a descendência darwinista com modificação. Até mesmo no caso de espécies vivas, os restos enterrados não podem, geralmente, ser usados para estabelecer relações de ancestrais-descendentes. Imagine encontrar dois esqueletos humanos na mesma cova, um trinta anos mais velho do que o outro. O indivíduo mais velho era pai do mais novo? Sem registros genealógicos escritos e marcas de identificação (ou em alguns casos o DNA), é impossível responder à questão. E nesse caso estaríamos lidando com dois esqueletos da mesma espécie que estão distantes apenas uma geração e na mesma localidade. Com fósseis de espécies diferentes que agora estão extintas, e bem separadas no tempo e no espaço, não há como se estabelecer que um é o ancestral do outro – não importa quantos fósseis transicionais encontremos. 
 
Em 1978, Gareth Nelson, do Museu Americano de História Natural, escreveu: “A ideia que alguém possa ir ao registro fóssil e esperar recuperar empiricamente uma sequência ancestral-descendente, seja de espécies, gênero, famílias, ou seja o que for, tem sido, e continua sendo, uma ilusão perniciosa.”[13] Henry Gee, escritor de ciência da Nature, escreveu em 1999 que “nenhum fóssil é enterrado com sua certidão de nascimento”. Quando chamamos novas descobertas de fósseis de “elos perdidos”, é como “se a corrente de ancestralidade e descendência fosse um objeto real para nossa contemplação, e não o que realmente é: uma invenção completamente humana criada após o fato, modelada da acordo com os preconceitos humanos”. Gee concluiu: “Pegar uma série de fósseis e afirmar que ela representa uma linhagem não é uma hipótese científica que possa ser testada, mas uma afirmativa que carrega a mesma validade de uma história para dormir – entretém, talvez até seja instrutiva, mas não é científica.”[14] 
 
(Dr. Jonathan Wells, Discovery Institute, 18/5/2009; via Desafiando a Nomenklatura Científica
 
Notas:
 
1. Jerry A. Coyne, Why Evolution Is True (New York: Viking, 2009), p. 3.
2. Coyne, Why Evolution Is True, p. 3, 4.
3. Coyne, Why Evolution Is True, p. 5, 6.
4. Coyne, Why Evolution Is True, p. 18, 19.
5. Coyne, Why Evolution Is True, p. 17-18, 25.
6. Charles Darwin, The Origin of Species, Sixth Edition (London: John Murray, 1872), Capítulo X, p. 266, 285-288. Disponível online (2009) aqui.
7. J. William Schopf, “The early evolution of life: solution to Darwin’s dilemma”, Trends in Ecology and Evolution 9 (1994): 375-377. James W. Valentine, Stanley M. Awramik, Philip W. Signor & M. Sadler, “The Biological Explosion at the Precambrian-Cambrian Boundary”, Evolutionary Biology 25 (1991): 279-356. James W. Valentine e Douglas H. Erwin, “Interpreting Great Developmental Experiments: The Fossil Record”, p. 71-107, in Rudolf A. Raff & Elizabeth C. Raff (editores), Development as an Evolutionary Process (New York: Alan R. Liss, 1987). Jeffrey S. Levinton, “The Big Bang of Animal Evolution”, Scientific American 267 (novembro 1992): 84-91. “The Scientific Controversy Over the Cambrian Explosion”, Discovery Institute; disponível online (2009) aqui. Jonathan Wells, Icons of Evolution (Washington, DC: Regnery Publishing, 2002), Capítulo 3; mais informação disponível online (2009) aqui. Stephen C. Meyer, “The Cambrian Explosion: Biology’s Big Bang”, p. 323-402, in John Angus Campbell & Stephen C. Meyer (editores), Darwinism, Design, and Public Education (East Lansing, MI: Michigan State University Press, 2003); mais informação disponível online (2009) aqui.
8. Coyne, Why Evolution Is True, p. 28.
9. Coyne, Why Evolution Is True, p. 48.
10. Coyne, Why Evolution Is True, p. 49-51.
11. Kevin Padian e Luis M. Chiappe, “The origin and early evolution of birds”, Biological Reviews 73 (1998): 1-42; disponível online (2009) aqui. Wells, Icons of Evolution, p. 119-122. 
12. Coyne, Why Evolution Is True, p. 25, 53. Chico Marx in “Duck Soup” (Paramount Pictures, 1933); essa e outras citações do irmãos Marx Brothers estão disponíveis online (2009) aqui.
13. Gareth Nelson, “Presentation to the American Museum of Natural History (1969)”, in David M. Williams & Malte C. Ebach, “The reform of palaeontology and the rise of biogeography – 25 years after “Ontogeny, phylogeny, palaeontology and the biogenetic law” (Nelson, 1978)”, Journal of Biogeography 31 (2004): 685-712.
14. Henry Gee, In Search of Deep Time (New York: Free Press, 1999), p. 5, 32, 113-117. Jonathan Wells, The Politically Incorrect Guide to Darwinism and Intelligent Design (Washington, DC: Regnery Publishing, 2006); mais informação disponível online (2009) aqui.

O sujeito da experiência psicanalítica entre o contingente e o necessário

Mônica Assunção Costa Lima

Psicóloga do Hospital das Clínicas, da UFMG. Mestre em Psicologia, pela UFMG (linha de pesquisa: estudos psicanalíticos)

 


RESUMO

O trabalho examina a hipótese de J-C. Milner que afirma que o sujeito da experiência psicanalítica, por ser correlato da ciência moderna, também o é do contingente. Busca-se verificar até que ponto tal hipótese se sustenta e checar se encontra fundamentos no pensamento lacaniano. Discutimos as categorias do contingente e do necessário, no que se refere ao inconsciente, para concluirmos que não é viável uma psicanálise exclusivamente do contingente, esta dimensão devendo ser sempre tomada em referência ao necessário.

Palavras-chave: Ciência moderna, sujeito da ciência, sujeito psicanalítico, cadeia de significados, gozo, o contingente, o necessário.


ABSTRACT

The psychoanalytic subject between the contingent and the necessary. This paper examines Milner’s hypothesis in which the subject of the psychoanalytic experience, as a correlate of modern science, is a correlate of the contingency. We have investigated if this hypothesis is sustainable and if it is well founded on the Lacanian thinking. We have discussed the categories of the contingent and the necessary, relating them to the unconscious, concluding that a psychoanalysis of the contingent is not viable, because this dimension must be considered with reference to the necessary.

Keywords: Modern science, subject of science, psychoanalytic subject, chain of signifiers, jouissance, the contingent, the necessary.


 

 

O ponto de partida deste trabalho e o pivô de seus desdobramentos são as hipóteses que se seguem. A primeira, formulada por Lacan no texto A ciência e a verdade, propõe que “o sujeito sobre o qual operamos em psicanálise só pode ser o sujeito da ciência” (LACAN, 1965/1966, p. 858). A segunda, apresentada por Milner no livro A obra clara, constitui-se como desdobramento da primeira ao afirmar que “o sujeito sobre o qual opera a psicanálise, sendo um correlato da ciência moderna, é um correlato do contingente”. (MILNER, 1995, p. 61)

Tais proposições abrangem noções que não são triviais. Definir com rigor o sujeito sobre o qual operamos em psicanálise configura por si só uma questão embaraçosa, o mesmo podendo ser observado em relação à ciência moderna. Sendo assim, ao buscarmos articular conceitos de tal complexidade, acabamos por deixar de lado pontos esclarecedores essenciais, já que o que nos interessou foi o esclarecimento da conexão entre os termos designados, a saber, as relações entre a ciência, o sujeito da práxis psicanalítica e a contingência.

A hipótese de Lacan, há pouco mencionada, faz parte de um conjunto abrangente de hipóteses apresentado por ele sobre a ciência, que nada deve a algum tipo de cientismo. É curioso que Lacan tenha, num determinado momento de sua obra, recorrido a uma doutrina da ciência para explicitar certos conceitos da psicanálise, o de sujeito por exemplo. É possível, no entanto, aquilatar a importância de tal doutrina para seu pensamento, a partir de afirmações que estabelecem a ciência moderna como condição de possibilidade da psicanálise. A hipótese de Jean-Claude Milner faz parte de uma teoria sofisticada da ciência, extraída da leitura realizada pelo autor da obra de Lacan e podemos nos perguntar se tal teoria está inteiramente fundamentada no pensamento lacaniano.

Discutir a posição de Lacan em relação à ciência pode parecer irrelevante para alguns. Não são poucos os psicanalistas que defendem a necessidade de se enfatizar a experiência e a clínica da psicanálise, considerando com desdém todo tema que delas se distancia, o que poderia ser o caso das teses de Lacan sobre a ciência. E, assim, uma outra questão se impõe: a de saber se o doutrinal de ciência, em Lacan, é exigência da psicanálise ou se é necessidade exterior a seu campo. Necessidade da filosofia, por exemplo, que Lacan teria introduzido no terreno psicanalítico.

A posição de Milner é de que as teses sobre a ciência são uma necessidade interna à teoria lacaniana. Elas o são, na medida em que não é possível pensar o sujeito, nem a experiência da psicanálise, sem nos apoiarmos nas concepções introduzidas no pensamento moderno pela ciência. (MILNER, 1991, p. 347)

Milner aproxima as teorias lacanianas do significante e do sujeito da estratégia transcendental, que consiste em despojar o objeto de suas propriedades. No processo de desnudamento, um pouco antes de o objeto deixar de ser pensável, ele (o objeto) se revela como não sendo totalmente vazio, nem totalmente sem estrutura. As propriedades que permanecem, chamadas residuais, não podem ser outras. Se pudessem ser diferentes, o objeto deixaria de ser pensável. Elas são resultado da eliminação do contingente. Ora, se o método transcendental caracteriza-se pelo despojamento do objeto de suas propriedades empíricas e contingentes, constatando no final do processo que ainda existem propriedades, então, devemos reconhecer que a teoria do significante tem parentesco evidente com tal método. Sob este ponto de vista, a teoria do significante seria uma lógica transcendental, ou aquilo que a substitui. E o que vale para a teoria do significante vale também para a teoria do sujeito, já que este encontra-se incluído na definição do significante. Ora, se as teorias do significante e do sujeito constituíssem exclusivamente a doutrina lacaniana, esta se resumiria numa metafísica transcendental. Entretanto, o programa de Lacan é outro, pois além da teoria significante — que reduz o pensamento a suas condições mínimas — ele inclui também o corpo, instância do contingente. A sexualidade se define pela contingência infinita no corpo e é o infinito que a literalização em Lacan soletra. Só assim podemos compreender, nos diz Milner, por que a teoria da ciência é necessária a Lacan. A ciência moderna, com suas expressões matemáticas que fixam em leis científicas o empírico passageiro, torna concebível a passagem do sexual contingente à estruturação simbólica necessária. Somente a ciência moderna pode elucidar a articulação entre o corpo e o significante, sem o que a teoria lacaniana se reduziria a uma metafísica. (MILNER, 1991, p. 334, 345, 348)

 

A CONCEPÇÃO DE CIÊNCIA EM LACAN

Existem diferenças, todos sabem, entre as posições de Freud e Lacan no que se refere à ciência. Enquanto a ciência, para Freud, se coloca como ideal externo a ser alcançado pela psicanálise se esta quiser um dia conquistar o adjetivo de científica, para Lacan, ela não é ponto ideal, e nem tampouco é exterior ao campo psicanalítico. Lacan inverte a perspectiva ao afirmar que a ciência moderna mantém com a psicanálise relação de estruturação interna.

Para elucidar a relação lógica entre ciência e psicanálise devemos lançar luzes sobre as concepções dos epistemólogos que fundamentam a visão lacaniana de ciência: Koyré, Kojève e Popper. O último nome é sugestão de Milner, que o designa como o elo ausente na cadeia lacaniana de razões ligando a ciência à psicanálise.

Segundo Koyré, a revolução científica ocorrida no século XVI deve ser considerada a mais importante revolução do pensamento humano, depois da descoberta do cosmos pelos gregos. A mudança intelectual radical está ligada às idéias de Galileu e sua expressão mais importante é a física matemática. Constitui-se como ruptura em relação às concepções científicas gregas e medievais, pois determinou a subversão do conjunto de conceitos e axiomas vigentes até então, além de introduzir uma idéia inédita da natureza, da ciência e da filosofia (KOYRÉ, 1966/1973, p. 166).

A novidade galileica é que a matemática, agora, estrutura a ciência. Ela pode apreender e expressar o empírico, sem considerar — como os gregos — uma hierarquia que vai dos seres menos perfeitos, rebeldes à matemática, aos seres mais perfeitos e necessários que podem ser, por essa razão, quase integralmente matematizados. A física moderna considera todos os seres como estando num mesmo nível ontológico e seu objeto é o que na natureza existe de passageiro, e de imperfeito. Desaparece toda e qualquer consideração fundada sobre o valor, a perfeição e a harmonia. O corte efetuado por Galileu implica no rompimento da matemática com o eterno e com o necessário, pois, a partir de então, ela incide, enquanto letra, na natureza, devendo apreender pelo cálculo o que ali se apresenta como mutável.

Nessa mesma direção aponta a tese proposta por Kojève (1964), ao assinalar a origem cristã da ciência moderna. Para o autor, existe indubitavelmente conexão entre a ciência/técnica moderna e a teologia cristã. Ele chama a nossa atenção para o fato de que a física matemática, nascida no século XVI na Europa, não é encontrada nem antes desta data, nem tampouco fora deste espaço geográfico. Chineses, indianos, árabes, hebreus, em suma, nenhum povo não cristão foi capaz de superar a ciência helênica. A física matemática, figura proeminente da ciência moderna, surge especificamente na civilização cristã.1

Diferentemente da teologia cristã, na teologia pagã clássica, Deus é sempre transcendente. O Theos do paganismo clássico está sempre além do mundo onde vive o pagão. A tela que separa Deus do mundo é para Platão um Cosmos ideal utópico e, para Aristóteles, o Céu planetário sideral. Pouco importa, o que conta é a absoluta impossibilidade para o pagão e para Deus de franquear a barreira. O mundo transcendente, onde o Theos se manifesta, é um conjunto bem ordenado de relações rigorosas, fixadas desde sempre entre números eternos e precisos. Inversamente ao mundo divino, o mundo profano não comporta relações realmente matematizáveis, ou seja, relações eternas e precisas. De acordo com esta teologia, seria absurdo buscar tais leis na matéria vulgar que constitui nossos corpos, o que significa que, para eles, a física moderna é impensável.

Partindo da idéia de que a ciência moderna nasce da oposição à ciência pagã e constatando que tal oposição só surgiu no cristianismo, Kojève busca identificar o dogma cristão que fez com que os cristãos inventassem a física matemática. Conclui, em sua análise, que o único dogma exclusivamente cristão é o da encarnação, já que o monoteísmo, o criacionismo e a trindade encontram-se presentes também no judaísmo, no islamismo e no neoplatonismo.

E o que a encarnação é senão a possibilidade da presença de Deus eterno no mundo temporal onde vivemos, sem perder nada de sua perfeição? Ora, se a presença no mundo sensível não deteriora a perfeição de Deus é porque este mundo também é perfeito em alguma medida. Se, como dizem os cristãos, um corpo terrestre, humano, pode ser ao mesmo tempo o corpo de Deus, nada mais os impede de buscar as relações, eternas e necessárias — que de acordo com os gregos encontravam-se apenas nos corpos divinos — aqui na terra. (Kojève, 1964)

Ainda de acordo com o ponto de vista de Milner, o traço característico da ciência moderna para Koyré e Kojève se aproxima do apontado por Popper, se o examinamos sob o ponto de vista da contingência. Popper, como já mencionamos, seria o elo ausente na cadeia de razões de Lacan acerca da relação da ciência com a psicanálise. (MILNER, 1995, p. 61-62)2

Na conferência “A ciência: conjecturas e refutações”, Popper está preocupado em estabelecer critérios de distinção entre as ciências e as pseudociências. Como exemplos de pseudociência, ele cita o marxismo, a psicanálise e a psicologia do indivíduo de Alfred Adler, as quais, em sua opinião, podem explicar quase tudo o que se passa nos campos aos quais se referem. Essas teorias, de acordo com o autor, são compatíveis com as mais divergentes condutas humanas. O mundo parece estar cheio de verificações de seus postulados, e os resultados das observações nunca contradizem as hipóteses. Já no caso das teorias científicas, elas são refutadas toda vez que a observação mostra a ausência do efeito que havia sido predito, o que quer dizer que elas são incompatíveis com certos resultados da observação.

Popper considera que a confirmação de uma teoria só pode advir de um teste genuíno: aquele que tem o objetivo sério, mas infrutífero, de desmenti-la. Acredita que a confirmação de um conjunto de hipóteses só é válida se for resultado de predições rigorosas. Para ele, toda ciência implica na proibição de que certas coisas aconteçam, não podendo ser considerada científica uma teoria que não é refutada por nenhum fato da observação. Isso quer dizer que, para Popper — e é o próprio autor que o resume assim — o critério de cientificidade de uma teoria é a refutabilidade.

Dizer que um enunciado científico deve ser refutável significa que ele necessita ser suscetível de entrar em conflito com observações possíveis ou concebíveis. Dito de outro modo, a negação do enunciado científico deve ser possível tanto do ponto de vista lógico quanto do ponto de vista material. Deste ângulo, então, uma proposição científica (refutável) é uma proposição contingente. Uma proposição que pode ser diferente do que é, que pode ter outro referente.

O discurso científico moderno, matematizado — se concordamos com Milner — apreende o contingente. Este é, como vimos, um ponto comum na interpretação que ele faz dos discriminantes da ciência de Koyré, Kojève e Popper, e, sob este prisma, a matemática não extingue o acaso. As letras e números das fórmulas matemáticas não têm razões para ser como são, nem para ser diferentes do que são, mas desde que uma letra é fixada numa equação matemática, descrevendo uma lei científica, ela permanece, não muda mais, a não ser que mudemos de equação. À permanência chamamos “a necessidade da ciência”. Entretanto, a necessidade que encontramos nas leis científicas não passa de uma “cicatriz da contingência” (MILNER, 1995, p. 63), pois se acatamos a leitura que Milner faz de nossos epistemólogos, cada referente de cada proposição científica pode ser diferente do que é. O conjunto de pontos aos quais se referem as proposições científicas é chamado de universo. Estes pontos devem se deixar apreender numa oscilação infinita, sendo eternamente mutáveis, e é suficiente a variação de apenas um deles para que tenhamos dois universos diferentes.

Ocorre que o universo científico se define a partir da exclusão de todos os outros universos possíveis e sob este ponto de vista podemos compreender que o universo é necessariamente infinito. Não se trata de infinito quantitativo nem extensivo e sim qualitativo. O universo é infinito, porque é contingente, por poder ser infinitamente diferente daquilo que é. A infinitude sendo sua característica intrínseca. (Idem, p. 63, 64)

 

O INFINITO E O INCONSCIENTE

A modernidade se caracteriza pela inexistência da finitude do universo, o que significa que nada está fora dele. Podemos agora dar mais um passo e dizer: se não existe nada fora do universo, então, não existe nada fora do infinito e do contingente. A idéia de que não existe nada em regime de exceção não é fácil de ser assimilada. Desde o pensamento helênico, o homem inventa figuras que se situam fora do universo: Deus, a alma — instância do homem que o associa a Deus — e a mais moderna delas, que chamamos de consciência. É neste ponto que a psicanálise ganha importância, pois é a doutrina que coloca em questão a consciência, defendendo a concepção de que existe um universo em relação ao qual nada se situa como exceção, nem mesmo o homem. O conceito psicanalítico que sustenta esta proposição é o conceito de inconsciente. O inconsciente contradiz os privilégios da consciência do homem como aquilo que faz exceção ao Todo. A ciência e o inconsciente depõem a primazia do eu e contrariam a exceção narcísica. Assim como na ciência moderna, o infinito parasita o finito — todo finito apresenta-se, primeiramente, como podendo ser incessantemente diferente do que é — o inconsciente parasita o consciente. “Parasita-o manifestando-se como podendo ser diferente do que é, e deste modo acaba por estabelecer em que ele não pode ser de outro modo”. (Idem, p. 66-67)

A semelhança averiguada por Milner entre a ciência moderna e o inconsciente encontra-se no fato de que o pensamento inconsciente, “estruturado como uma linguagem”, exatamente como as leis científicas, não pode mudar. A estrutura permanece desde que a letra assim a fixou, mas não devemos nos esquecer que a letra, no inconsciente, soletra o sexual, lugar da contingência infinita no corpo. Sexual este parasitado pelo infinito que nele se presentifica sob a forma da pulsão de morte, do gozo e do “não-todo”.

 

A LETRA EM LACAN

A noção de literalização, introduzida por Milner na discussão acerca da relação da psicanálise com a ciência, no primeiro tempo do ensino de Lacan, deve ser pensada em referência ao estruturalismo — via apresentada no século XX às ciências conjeturais como possibilidade de tratamento exato e preciso de seus objetos, a partir da matematização ampliada. Nos anos 1950, a letra e a escrita propiciam a Lacan aproximação do inconsciente e do sujeito, utilizando um número mínimo de conceitos iniciais. A letra, em sua figura de caracter tipográfico, reúne várias características que Lacan pretende atribuir ao significante. A letra nos dá prova de sua materialidade por não poder ser reduzida a unidades menores e por sua topologia específica. Na escrita, bem como na cadeia do inconsciente, as letras se organizam obedecendo a uma sintaxe que preside desde as organizações mais elementares até as mais complexas, nas quais vemos surgir possibilidades e impossibilidades de combinação. As letras podem compor várias frases e palavras, podem ligar-se de variadas formas, e isso ocorre porque elas não possuem nenhum sentido fixado, não representam nada, não têm referente. O sentido advém da articulação entre elas, articulação que se faz e desfaz, possibilitando o surgimento de novas organizações e garantindo a característica essencial do simbólico, que é a de ser perpetuamente mutável. Por último, a letra preexiste ao sujeito, bem como às regras que presidem seu ajuntamento, o que assegura seu caráter radicalmente extrínseco e heterogêneo em relação ao ser falante.

Esclarecido o uso que Lacan faz da letra, nos referidos anos 1950, é necessário indicarmos as modificações introduzidas na concepção de linguagem no interior do seu pensamento. Se, num primeiro momento, o inconsciente edificou-se do lógico puro, posteriormente a estrutura simbólica é pensada em sua articulação ao gozo do vivente que fala.

Dois momentos da nova teorização sobre a letra devem ser privilegiados. Em primeiro lugar, “Lituraterra”, texto escolhido para abrir a nova coletânea de escritos de Lacan, denominada Outros escritos. A escolha, que não é casual, pode ser explicada por algumas razões. É provável que seja referência ao “Seminário sobre `A carta roubada'”, artigo que abre os Escritos, analisando uma obra literária. Aliás, Lacan, na introdução de “Lituraterra”, retoma num comentário o referido artigo. Os dois textos que abrem os dois Escritos situam-se num campo de relação da psicanálise com a literatura. E, mais do que isso: ambos apresentam teoria sobre a letra, “lituraterra” tratando de separar os dois termos que na “Carta roubada” mostravam-se sobrepostos, quais sejam, a letra e o significante.

“A carta roubada” abre uma série de Escritos, cuja lição Lacan resumiu na seguinte proposição: “o inconsciente se edifica do lógico puro, dito de outro modo, do significante”. É texto que está em consonância com este axioma. Já os Outros escritos enfatizam a satisfação pulsional derivada do significante.3

Assim, o fato de “Lituraterra” abrir a coletânea nos assinala que algo mudou na teoria do significante, e que a estrutura simbólica, a partir de então, deve ser pensada em sua articulação ao gozo do vivente que fala. A letra, agora investida de estatuto diferente daquele do significante (LACAN, 1971/2001, p. 12), deve poder responder por certos aspectos da experiência analítica, mais especificamente pela substancialidade que, no Seminário XX, Lacan associa ao gozo.

A introdução do termo lituraterra tem relação com as modificações introduzidas no ensino de Lacan em função da promoção do escrito (Idem, p. 12). Neste texto, Lacan acentua a vertente da letra que diz respeito à materialidade, ao objeto, ao lixo e ao resto, em detrimento da outra vertente, em sua relação com a mensagem. À letra é dada posição de destaque, já que o significante, com seus efeitos de sentido, não resume a experiência do inconsciente. Ela é apresentada como elemento intermediário entre o que no inconsciente apresenta-se como decifrável e a substância do gozo. Isso é o que ilustra a metáfora da letra, enquanto litoral, que aloja o gozo criado pelo vazio da escrita.

Outra elaboração sobre a letra e o escrito encontra-se em “A função do escrito”, capítulo do Seminário XX, no qual Lacan destaca a dimensão do escrito que não tem a ver com a decifração e com o sentido, mas com a cifração de gozo.

Equivalendo a escrita de Joyce àquilo que os psicanalistas devem ler, Lacan assinala que, ali, temos profusão de significantes que se encavalam uns sobre os outros, obscurecendo a dimensão do significado. É difícil captar a significação de sua escrita, porque ela produz justamente multiplicidade de sentidos. O que Joyce opera com sua escrita é a eliminação do efeito representativo do significante, situando-o no registro da pura produção de gozo cifrado, o qual não requer nenhum efeito de significação.

A ilegibilidade do escrito, sua resistência à interpretação, nos aponta justamente para o que na letra ultrapassa a função de mensagem. O escrito tem função que não tem a ver com a decifração e com a produção de sentido e está relacionada com o que escapa ao discurso. A letra, diferente do significante, faz referência ao que não pode ser lido, à impossibilidade de tudo se escrever. Se do significante decorre efeito de sentido, da letra é derivado um efeito de gozo, já que ela concerne “a coisa” que não se traduz numa inscrição.

As modificações operadas na concepção da estrutura simbólica constituinte do inconsciente nos interessa porque o segundo momento teórico, em Lacan, é mais propício para desenvolvermos a hipótese de Milner, já que, ali, Lacan se esforça para conciliar a estrutura de linguagem — do registro da necessidade — com o sexual, que, sob certos aspectos, pode ser pensado na dimensão da contingência.

 

O SEXUAL NA TEORIA DA PSICANÁLISE

É chegado, pois, o momento de elucidarmos o que Milner designa como sexual. Todos sabem que o conceito de pulsão é introduzido por Freud especificamente no contexto do sexual, enquanto anteriormente ele só havia falado de energia psíquica. O sexual em psicanálise encontra-se, desde 1905, com os Três ensaios, associado ao contentamento das pulsões e à satisfação extraída do próprio corpo. À sexualidade perversa polimorfa — caracterizada pela atividade auto-erótica das pulsões parciais, que recortam o corpo em zonas erógenas — é acrescentada, entretanto, na teorização acerca do complexo de Édipo, a problemática do falo, da castração e da lei do pai. Podemos dizer que a vivência edípica é o momento no qual o inconsciente se estrutura em resposta às excitações corporais, vivenciadas na sexualidade infantil. Ocasião em que a linguagem é convocada para interpretar o gozo oriundo das diferentes zonas erógenas, sobretudo as sensações genitais, que, neste período, apresentam-se intensas e perturbadoras.

Na encruzilhada do Complexo de Édipo, à sexualidade perverso polimorfa impõe-se uma forma, um curso. A satisfação sexual primária que se apresentou, inicialmente, como perturbadora, indefinível e podendo ocorrer de infinitos modos, é organizada, neste momento, em referência ao primado do falo. O recalcamento das pulsões parciais, efetuado na dissolução do complexo de Édipo, tem por efeito a substituição do gozo do corpo pela sexualidade comandada pela linguagem. O recalque transforma em gozo sexual — no sentido específico que ele assume para o ser falante — o que, anteriormente, fora experimentado como sensação indeterminada.

A promoção do falo, efetuada por Lacan, ao estatuto de significante privilegiado capaz de organizar um campo de significação referente ao sexual é decorrente da tese freudiana do primado do falo, segundo a qual, tanto o menino quanto a menina toma conhecimento de seu sexo a partir do significante fálico. O significado desta tese é que o sexo no ser humano se determina não segundo dado anatômico, mas segundo a relação do sujeito com a castração. Fazendo com que não haja complementaridade possível na relação homem e mulher e sim disparidade, dissimetria fundamental.

Embora Freud tenha explicado satisfatoriamente a constituição do masculino a partir da ameaça de castração e da dissolução do complexo de Édipo, o feminino, ao que parece, mostrou-se sempre rebelde em adequar-se a este modelo — a mulher tendo permanecido, para a psicanálise, como enigma, como inclassificável, como o que resiste à castração e a qualquer tipificação sob um significante único.

Assim, pois, é partindo do impasse, alcançado por Freud, na tentativa de explicar a feminilidade nos moldes da castração que podemos retomar a releitura feita por Lacan do complexo de Édipo freudiano a partir das fórmulas quânticas da sexuação. Com as fórmulas, Lacan busca discernir dois tipos de gozo: um interditado pelo significante e ligado ao ser e outro permitido pelo significante e ligado à significação fálica. Desloca a pergunta sobre a sexualidade feminina para uma pergunta sobre o gozo. O masculino e o feminino, em sua elaboração, tornam-se dois tipos de gozo e a questão que se abre é a de saber se existe gozo para além do falo.

Lacan propõe a idéia de que o feminino não se submete completamente ao Édipo nem à castração, destacando os efeitos do primado do falo, para a mulher, como divisão nela operada. A mulher, para Lacan, está “não-toda” na função fálica e é capaz de experimentar outro tipo de satisfação que floresce à margem da estrutura organizada pelo falo.

O verdadeiro interesse de Lacan, no Seminário XX, é o de abrir uma via do “não-todo” por intermédio de nova formalização da sexualidade feminina. Como a função fálica é insuficiente para recobrir todo o campo das pulsões, ocorre fracasso na unificação destas numa pulsão sexual global que dê conta da relação ao Outro sexo, o qual não é representado por significante nenhum.

Deste modo, ao lado da satisfação que se organiza sob o primado do falo, persiste uma outra que resiste a unificar-se sob esta função, mantendo sua alteridade em relação ao gozo fálico e preservando a marca de sua contingência e de sua não-totalização. E, aqui, encontramos o infinito na absoluta contingência de que nos fala Milner, que não se define, que não se delimita num universo fechado. O infinito parasita a função fálica e, apesar de nos esquecermos dele, diante da necessidade que se instaura em função da determinação do sujeito pelo significante, ele persevera em sua presença silenciosa acoplado à estrutura de linguagem presidida pelo falo.

 

O SUJEITO , O INFINITO E A CONTINGÊNCIA

Badiou (1993, p. 18-31), no texto Sujeito e infinito, discute dois parágrafos do Seminário XX que o intrigaram durante muito tempo. Neles, Lacan coloca em evidência que a condição fundamental para as fórmulas da sexuação é a condição de infinitude. Nas mencionadas fórmulas, embora a função fálica ou de castração seja um argumento obrigatório, válido para todos, ela pode operar de dois modos diferentes. Pode ser ou não ser de alcance absolutamente universal. O enunciado “para todo x, (x)”, em função do “para todo” nos insere no universal da castração, enquanto que o enunciado “não-todo x (x)” coloca restrição parcial para a operação de castração. A mulher está “não-toda” no gozo fálico.

Na lógica aristotélica, a negação de uma universal implica sempre numa particular. Se dizemos “não todo homem é mortal”, então, necessariamente “algum homem é imortal”. Se fôssemos aristotélicos, no caso das fórmulas da sexuação teríamos: se “não-todo x (x)”, então, “existe um x como não (x)”. Essa é precisamente a dificuldade que Lacan quer evitar, pois ele não pode admitir que exista algum sujeito subtraído à função da castração. A castração é universal, está identificada à função da linguagem. O que (x) significa é que o sujeito não pode mais dispor do conjunto de significantes, que para ele a língua é “não-toda”. Admitir um sujeito que não se relacione com a função da castração é o mesmo que admitir que tal sujeito não se encontra na linguagem.

Ao definir a posição da mulher como “não-todo x (x)”, Lacan ressalta que não devemos tomar a fórmula em extensão. Ou seja, a fórmula não significa que algumas mulheres estejam subtraídas à função (x) e, sim, que não é do ponto do todo que a mulher sustenta a função. A fórmula indica apenas uma brecha neste efeito, que está em alguma parte e não em toda parte.

A solução encontrada por Lacan, segundo Badiou, está do lado do infinito. Lacan nos diz que se o “não-todo” operasse no finito, produziria como efeito “existe um como não”, ou seja, a desuniversalização da castração, exatamente como vimos na lógica clássica. É preciso então supor que o campo onde opera o “não-todo” seja infinito. Tal campo é o do gozo feminino, o que nos leva a concluir que o gozo feminino é infinito. O infinito está afetado em “alguma parte” pela função da castração. Apenas em alguma parte, pois, a função fálica diante do infinito fracassa em estar em “toda parte”. Já dissemos que a castração se apóia no fato de a língua só ser disponível de modo finito, como língua “não-toda”, o que nos leva a concluir que o gozo que é da ordem do infinito, que ultrapassa o registro fálico, é gozo que está fora da linguagem.

O embaraço de Lacan está em evitar que o gozo suplementar da mulher ateste uma ex-istência ao efeito da castração. Lembrem-se que Lacan não abre mão do universal da castração e luta até o fim com a conseqüência existencial do “não-todo”, mencionada acima. Sendo assim, a solução apontada por Badiou, a que Lacan teria encontrado, é a seguinte: temos o gozo fálico, determinado de modo finito pela função (x); este gozo está em algum lugar, e pode, por esta razão, ser circunscrito. Temos também o outro gozo, por meio do qual a posição da mulher se sustenta pelo “não-todo”. Contudo, como a alteridade é da ordem do infinito, não podemos pensá-la como existência que negue a castração, ela é, como diz Lacan, muito indeterminada para isso. Uma existência que negue a castração teria que ser finita, determinada e circunscrita. O suplemento feminino é infinito e como tal não complementa o primeiro gozo, o gozo fálico, como conjunto determinado. Ele é sem contorno e como tal não inclui nenhuma existência que proceda da negação do primeiro gozo. Lacan em …ou pire define o “não-todo” como “aquele que não está contido na função fálica sem no entanto ser sua negação” (Lacan, apud Badiou), no que reconhecemos uma exterioridade que não é negação. Assim, segundo Badiou, o infinito proíbe que a relação entre os dois gozos seja dialética, que seja a união dos contrários ou ainda uma relação. O infinito introduz uma dissimetria que torna impossível a relação entre o “para-todo” homem com a “não-toda” mulher.

Assim, retomando o que já foi dito, a condição para que o gozo feminino não se constitua numa negação da função fálica nem na afirmação da existência de algum sujeito que negue a castração, é que ele seja infinito e indefinido. Este é o infinito de que nos fala Milner. Infinito que não se define, que não se delimita num universo fechado, eis o que a letra no inconsciente soletra. O infinito parasita a função fálica e, apesar de nos esquecermos dele, diante da necessidade que se instaura sob a forma da determinação do sujeito pelo significante, ele persevera em sua presença silenciosa, acoplado à estrutura de linguagem.

Na noção ampla de gozo, em Lacan, localizamos a noção mais restrita do gozo sexual. O gozo sexual fálico limita o gozo em geral. Do gozo do ser a função fálica tem por efeito nos separar. O gozo sexual abre-se como possibilidade para o ser falante a partir da castração e do submetimento à estrutura de linguagem. Está irrevogavelmente ligado ao falo e pode ser traduzido na cadeia significante nos termos do desejo. Se a sexualidade infantil se resume na satisfação pulsional auto-erótica, alcançada em torno das zonas erógenas, a pulsão sexual propriamente dita volta-se para o Outro sexo e para a castração. O gozo sexual ocorre exclusivamente por meio de semblantes, enquanto o “gozo do Outro”, como o chamou Lacan no Seminário XX, é fora da linguagem, disjunto da existência do sujeito na cadeia significante.

Na idéia de Milner de que o inconsciente soletra o sexual em sua dimensão infinita está implicada esta dupla face. Alguma coisa do sexual pode se inscrever, é o caso da função fálica demarcando um masculino e um feminino. É o caso do fantasma, que, numa frase, escreve algo da relação do sujeito com seu objeto de satisfação. No entanto, a outra face da escrita do sexual — que determina de modo necessário uma posição subjetiva — é o gozo infinito, que a função fálica, por sua insuficiência, não pôde delimitar, permanecendo, assim, em sua dimensão contingente.

Buscamos o gozo obtido na primeira experiência de satisfação, mas o gozo fálico é o que se produz na repetição significante necessária. Este não seria necessário se a relação sexual existisse. Tudo seria bem mais harmonioso se pudéssemos nos satisfazer como na situação mítica do primeiro encontro com o objeto. Se o outro gozo fosse possível, não seria necessário o gozo fálico. Ele não seria necessário — tempo condicional — contudo, ele o é. O gozo fálico torna-se necessário e este é o correlato da afirmação de que não existe relação sexual. O “Outro gozo”, o que não convém à ausência de relação sexual no ser falante é o que sofre a incidência do recalque. Não é necessário, permanecendo subtraído da inscrição significante, preservando sua face de impossível.

Afirmar que a mulher é “não-toda” é reconhecer a existência de um gozo da ordem do infinito que permanece alheio ao falo e em regime de exceção. É considerar que o que da ordem do sintoma se inscreve, de modo necessário, funda-se numa contingência corporal. Este enlaçamento é o que se encontra em questão no inconsciente de Milner que se institui como literalização do sexual contingente, nos fazendo admitir que, numa análise, não trilhamos apenas a vertente do desejo, enquanto repetição significante. O que o discurso analítico nos indica, justamente, é a direção na qual o sentido sexual, enquanto semblante, fracassa.

 

CONCLUSÃO

Assim, acreditamos poder afirmar a pertinência e a coerência da hipótese de Jean-Claude Milner, que sustenta que o sujeito da experiência analítica, por ser correlato da ciência moderna, é correlato do contingente. O sujeito de que falamos é o sujeito suposto ao inconsciente, instituído a partir da “literalização” do sexual. Do mesmo modo que a ciência fixa o empírico passageiro e mutável nas leis científicas, enunciadas em equações compostas por letras e números, o encontro causal do sujeito com o Outro faz surgir a inscrição corpórea da satisfação sexual sob a égide da letra. Tal satisfação só se define como resultado da incidência da letra que recorta o organismo, fazendo surgir um corpo. O sexual contingente é o gozo que permanece fora da linguagem, alheio às relações necessárias da estrutura, fazendo fronteira com o gozo fálico que se tornou necessário. Pode configurar-se numa infinidade de maneiras possíveis. Este é o inconsciente que pode ser diferente do que é, universo que permanece aberto e indefinido.

A noção de sujeito proposta por Milner — sujeito da ciência, correlato do contingente — não toma como referência apenas o pensamento, não se reporta somente ao “inconsciente estruturado como uma linguagem”. Amplia a leitura que, visando demonstrar a equivalência entre o sujeito da ciência e o sujeito da psicanálise, aponta para a similaridade entre o pensamento inconsciente — funcionando como sistema coerente de letras que não possuem nelas mesmas sentido algum — e o pensamento da ciência moderna — que traduz o empírico com fórmulas matemáticas. A interpretação do sujeito, proposta por Milner, toma em consideração, além do pensamento — reduzido a suas propriedades mínimas e necessárias — o gozo contingente, sendo compatível com o ensino de Lacan, sobretudo com as elaborações apresentadas na década de 1970.

Neste período, Lacan, sem abrir mão da dimensão necessária da estrutura de linguagem, prioriza progressivamente o aspecto contingencial do sujeito. Passa a enfatizar a parte do sujeito não apreendida pelo significante, o que podemos constatar nos desenvolvimentos das figuras do “não-todo”, do infinito, do gozo do Outro, do gozo do corpo, do ser, etc.

O sujeito da práxis psicanalítica é o sujeito da ciência, não apenas porque a estrutura de linguagem do inconsciente se assemelha à estrutura do discurso da ciência, mas, também, porque as letras do inconsciente são “cicatrizes do contingente”. A letra torna eterno e necessário o que se modifica incessantemente. E, deste modo, podemos concluir que as concepções tardias de Lacan acerca do sujeito, do sintoma e da linguagem, em psicanálise, representam não somente a reafirmação da relação lógica entre psicanálise e ciência, como, também, o desenvolvimento, até as últimas conseqüências, desta hipótese. Quanto à pergunta, colocada no início do trabalho — que questionava se a ciência é necessidade interna à teoria da psicanálise ou se é necessidade da filosofia, introduzida por Lacan no terreno psicanalítico — devemos ressaltar que a hipótese segundo a qual a ciência moderna é o que garante, na teoria lacaniana, a conexão entre o sexual e a teoria do significante é de Milner e não de Lacan, já que este nunca explicou as razões que o levaram a recorrer a uma doutrina da ciência para explicitar conceitos psicanalíticos. E o que podemos afirmar é que, no desenvolvimento do trabalho, ela deu provas de sua congruência. De qualquer maneira, se aceitamos a hipótese como verdadeira, temos que admitir que o “doutrinal de ciência” é necessário apenas ao pensamento lacaniano, pois, muito claramente, Freud encontrou outra forma de sulcar o caminho para a psicanálise. Elucidar que caminho foi este pode ser o objeto de outra pesquisa. Nesta discussão, no entanto, é essencial considerarmos a diferença entre as teses sobre a ciência como necessárias à teoria da psicanálise, e a ciência moderna, como condição de possibilidade da teoria da psicanálise. O fato de Freud não ter recorrido a uma teoria da ciência para elaborar seu conceito de inconsciente, não é incompatível com a idéia da ciência como condição para a concepção deste mesmo inconsciente.

Na teoria lacaniana da ciência, que até aqui nos serviu como guia, o que se encontra no cerne da relação entre ciência e psicanálise, consistindo na lógica desta relação, independente de todo e qualquer discurso persuasivo, é a idéia do corte discursivo instaurado, com a emergência da ciência moderna. Este corte, na modernidade, afetou todos os discursos compatíveis, sem que nenhum discurso tenha permanecido imune. Nem mesmo a subjetividade, o que nos indica a hipótese do sujeito da ciência.

Sob este ponto de vista podemos, então, afirmar que o discurso freudiano, sendo discurso moderno, sofre os efeitos disseminados pela ruptura ocasionada pela ciência moderna, independentemente do fato de Freud ter ou não recorrido a teses sobre a ciência para organizar seu campo conceitual

Por último, gostaríamos de ressaltar que a ênfase progressiva colocada, por Lacan, sobre o aspecto contingencial do sujeito em detrimento de sua determinação significante necessária, não implica a instalação definitiva da psicanálise na dimensão do contingente. Na realidade, em Lacan, o necessário não se opõe ao contingente. A determinação simbólica não faz oposição ao acaso, mas é dele derivada. Se, no Seminário XX, Lacan ressalta o fracasso do corte operado pelo falo, na tentativa de recobrir com significação sexual todo o campo da pulsão, e se ele destaca as fissuras encontradas na totalização operada pela função fálica, que é sempre ultrapassada e deslocada, isso não implica nenhuma desconsideração para com o falo. Ao contrário, a presença do falo é o que nos permite identificar a ausência desta medida numa parte do campo feminino. Do mesmo modo, na vertente masculina das fórmulas da sexuação, o todo se fecha numa correlação com um elemento que a ele escapa — o pai do gozo absoluto. Elemento que não se submete à função fálica, mas que se destaca a partir de um todo fálico.

Quando a psicanálise aponta para a contingência, como dimensão constituinte do sujeito, seu interesse não é promover o indecidível. Apesar de a psicanálise reconhecer os limites da função fálica, ela opera com sua positividade. O que se apresenta como horizonte para sua prática não é a intenção de subverter a totalização, nem a de destacar os pontos em que seu fracasso se anuncia. Ela se interessa, de preferência, por explicar a possibilidade de um efeito de ancoramento num fluxo disperso. Por produzir efeitos sobre o gozo intervindo com o simbólico. O que pode ser interpretado (para retomarmos o tema de nosso trabalho) na afirmação de que não existe psicanálise do contingente — o contingente na experiência analítica devendo sempre ser tomado em referência ao necessário.

 

Referências

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Recebido em 26/4/2002. Aprovado em 10/5/2002.

 

 

Mônica Assunção Costa Lima
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1 É preciso ressaltar que este é um ponto de divergência entre Kojève e Lacan. Se o primeiro atribui ao cristianismo, e em especial ao dogma da encarnação, um papel decisivo na edificação da ciência moderna, o segundo defende o ponto de vista de que “a ciência moderna, aquela nascida de Galileu, só podia ter-se desenvolvido a partir da ideologia bíblica judaica, e não da filosofia antiga e da perspectiva aristotélica” (LACAN. J. Le Séminaire, Livre VII, L’éthique de la psychanalyse, p. 146).
2 O recurso a Popper, como já assinalamos, é iniciativa de Milner, o que pode parecer bizarro se levamos em conta as controvérsias que tal iniciativa pode gerar, como por exemplo: 1) a dificuldade de se compatibilizar as críticas de Popper a Freud e à psicanálise com a idéia de que seu pensamento é necessário a essa teoria; 2) o fato de que o restante da obra de Popper pode não se harmonizar com suas hipóteses em “Conjecturas e refutações” e 3) o fato de que a tese extraída por Milner do pensamento de Popper não se encontra explicitada em sua obra. O que devemos considerar, entretanto, é que a posição extraída por Milner da teoria popperiana, qual seja, a de que “não há ciência moderna senão do contingente” não depende de Popper, podendo também ser encontrada em Koyré e em Kojève. Popper, aqui, serve apenas para corroborar o que os dois filósofos já haviam, por conta própria, decifrado. Além do mais, é importante ressaltar que no Popper de “Conjecturas e refutações”, encontramos de fato, em nossa opinião, elementos que sustentam a leitura realizada por Milner.
3 Vejam a contracapa dos Outros escritos.