Esquerda x Direita


Esse pequeno texto a seguir é uma resposta de um administrador a um comentário na page Tradutores de Direita relativo a este post.

Se refere ao argumento não sou de direita nem de esquerda:

Essa estratégia de “despolarizar” o debate baseada em um suposto pseudo-maniqueísmo é um tiro no pé. De início, temos que entender por que alguém gostaria de ser reconhecido como “não sendo nem de direita e nem de esquerda”.

A resposta é até simples demais: participantes de debates públicos são vendedores de ideias. Automaticamente, o fato de alguém ser aderente a uma ideia diminui (embora não elimine) automaticamente o valor desta ideia. O senso comum pensa: “Ele diz isso por que é comunista!” ou “Ele diz isso por que é conservador!” e coisas do tipo.

Para reduzir o grau de rejeição, o debatedor poderá alegar que “não é nem de direita e nem de esquerda”, para, enfim, ser reconhecido pelo público como não aderente a ideia. Mas, se ele não é um aderente, mas mesmo assim está apoiando a ideia, qual a mensagem subliminar? Simples. A posição política elogiada é tão boa que ele, mesmo que não esteja do lado desta posição, “tem que reconhecer os méritos dela”.

Este tipo de interesse justifica por que existe tanta fuga da lógica quando alguém luta para fingir, perante ao público, que “não é de direita, e nem de esquerda”.

Podemos organizar isso usando um critério facilmente justificável: a crença fundamental. Assim, por exemplo, alguém ou é ateu ou teísta, se considerarmos a crença fundamental que define teísmo ou ateísmo. Neste caso, a crença em Deus. Mas este ateu pode ser espiritualista, o que é tipicamente considerado como sendo uma característica teísta ou deísta. Mas não há problema algum em alguém ser ateu e espiritualista. Ou mesmo ser ateu e adotar alguns princípios de uma religião. Ou rejeitar as religiões e adotar o teísmo. Mesmo assim, isto não permite que alguém diga que “não é nem ateu e nem teísta”.

Usando o mesmo critério, tomemos a crença no estado inchado, e nas pessoas que tomam conta deste estado. Sendo esta a mais fundamental das crenças do esquerdismo, por causa da crença no homem (a crença humanista que é um guarda-chuva para o esquerdismo – surgiram recentemente até direitistas humanistas, mas estes vivem em duplipensar, o que não é o caso dos esquerdistas, que seguem o humanismo à risca), alguém deve ser definido como esquerdista pelo fato de apostar ou não neste estado. A rejeição a esse paradigma configura o pensamento de direita.

Desta forma, é muito fácil saber se estamos diante de alguém da esquerda ou da direita. Se um sujeito começa a pedir subserviência das pessoas “ao estado” (como se fosse uma entidade abstrata e benevolente)… é de esquerda. Um esquerdista ainda tentando implementar a rotina poderia dizer que “quer o estado inchado, mas só se os serviços forem bons”, o que é o mesmo que dizer que “defende o estupro, mas acha que uma rosa deve ser deixada no corpo na mulher após o ato de violência”. Isto é, não existe um meio termo entre “aceitar estupro” e “não aceitar estupro” ou “aceitar estado inchado” e “não aceitar estado inchado”.

Claro que um esquerdista pode adotar algumas ideias da direita, e a teoria da dissonância cognitiva explica o processo. Já vi esquerdistas (raríssimos) defendendo penas altas para criminosos e até a redução da maioridade penal, por causa da crença na responsabilidade individual, mas isso pode configurar no máximo um esquerdismo moderado.

Mesmo na situação de um esquerdismo moderado, ainda existe uma opção entre esquerda ou direita na crença fundamental do esquerdismo, assim como mesmo na situação de um ateu espiritualista X teísta não-espiritualista existe uma opção entre ateísmo ou teísmo, que não pode ser superada.

A impossibilidade de superação existe por que falamos de dilemas, ou seja, situações onde ou escolhemos um lado ou escolhemos outro. A não ser que exista um esquerdismo quântico no sentido do espiritualismo picareta de um Amit Goswami. Aí existiria o “ser e não-ser” ao mesmo tempo ou até o “existir e não-existir ao mesmo tempo”. Mas nada disso pode ser levado a sério.

Quando alguém começar a dizer que “não é de esquerda e nem de direita”, observe o comportamento e faça questionamentos incômodos, e você poderá notar que, em relação a crença fundamental da esquerda, o sujeito irá demonstrar o seu lado. Que com certeza não é uma posição “nem de direita e nem de esquerda”, mas sim de esquerda.

Na maioria absoluta dos casos de aplicação desta rotina, podemos ter segurança de estarmos diante de alguém com aderência aos ideais de esquerda. São eles que adoram maquiar a realidade, inclusive sobre as definições que abarcam seu paradigma.

 

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